sábado, 29 de janeiro de 2011

"...Estou tentando ser razoável. Apesar de não ter certeza se no amor somos capazes de medir. Sim. Eu disse no amor. E por que não seria? Nesta hora não podemos julgar. Uso apenas a distração. E estar distraída é amar com enorme surpresa.
O amor passou por aqui. Deixou vestígios nos fatos. Impregnou na roupa e nos cabelos, nas páginas, nos olhos. Calou a lucidez da interpretação. “- Será que em algum momento fui clara?” e de alguma forma se alastra por suas telas e tintas.
Você pode ouvi-lo? Você pode reconhecê-lo vasculhando suas coisas? Ainda que resguardado pela cólera, pode senti-lo? Espero que não guarde um trunfo na manga. Lembre-se que estou apenas me confessando, estou livre do julgamento. Nem empreste juízo a minha fala. Estou louca.
Ouço o amor dizer seu nome. Vejo que ele descortina a bondade e desajeitado ele ocupa os espaços das coisas vazias. Provo do seu veneno. Arrisco-me. Como sempre fiz, estando ou não ao seu lado. E de novo me assombro. O amor comeu minha sanidade, ensinou-me a tranqüilidade de seus gestos e convidou-me a cometer um assassinato.
Não sacuda a cabeça, desaprovando ou embaralhado, lembre-se que lido agora apenas com a invenção. Neste caso é simples, preciso apenas cortar o cordão umbilical. Ou os pulsos. Isso depende da lente que se olha agora.
Talvez a dualidade seja o caminho menos doloroso e salto!

Aqui, ainda da janela, vejo-te na organização caótica que se instalou depois da visita. Papéis espalhados pelo carpete. Cigarros apagados com força em cinzeiros de barro. Os discos revirados sobre o sofá que agora pouco estava intacto. As telas que frias parecem tremer pelo estágio de queimadura. Vejo você num canto, tentando acender o centésimo cigarro, rabiscando nas paredes traços que apenas ocupam ainda mais o espaço. Será assim o dia da tua morte?
“- O que você ainda pode ver?”
- Vejo nós dois. Mutilados."