domingo, 6 de novembro de 2011

Tem gente que é gênio

“… levamos nosso choro adiante como uma lanterna, procurando por novas e esquecidas tristezas, aquelas que tinham morrido gentilmente anos antes, mas que não tinham morrido de fato e voltavam à vida com um pouco de água. Tínhamos amado pessoas que na verdade não deveríamos ter amado e então nos casado com outras pessoas para esquecer nossos amores impossíveis, ou tínhamos uma vez gritado alô para dentro do caldeirão do mundo e então fugido antes que alguém pudesse responder.”
(in É Claro que você Sabe do que Estou Falando, Miranda July)
E se for para amar de novo, que seja novo.

Pra quando Você chegar

Entre pela porta dos fundos
Da alma
Entra mansinho
E vê se não repara
A bagunça que fiz
Na minha "calma"
Entra, menino
E arruma o sofá
Os cantos cobertos de pó
E cantar
A torneira de lágrimas
Que não quer fechar
O armário de mágoas
Acabou de emperrar
Tá tudo virado
mofado
a dona menina
não sabe lavar
nem quer jogar fora
o que nela não da
o que serve em outra
ela não quer doar
Qual canção habita meus dedos
Dedilhando silêncios
Numa forçada pausa?
Componho respirações
Para as faltas do meu peito
Enxergo seu cheiro, nas ausências de mim
Esboço nosso corpo
Num desenho que não faço
Não esqueço
Não aqueço
Me desfaço
Cantar de água
Lagrima a lagrima
Borrando meus contornos
Ausência de pautas
Sou folha branca em todo
Escrita torta
Busco a porta
Que me leve
Ao meu encontro
Que me lave
Que me livre
Estes dois pontos
Acompanhando o meu ponto
São os culpados
Pelo não fim dessa paixão.
Sentimento vira água
Eu caminho por ladeiras
Caem gotas sobre pedra
A poeira, entre magoas
Ou só dor
De se perder
Vem o sol e leva a lágrima
Ela mesma vira nuvem
Que do céu em mim
Desaba.
Eu me sento na janela
Faço do meu vestido abrigo
Observo a queda delas
Quando avisto
Lá no cinza
A história de nos dois.
Corro suja pela lama
Abro os olhos para cima
E resgato a mim de volta
A história mais bonita que vivi.