sábado, 19 de setembro de 2009

Acaba quando termina

Esta é a última vez que procurarei entrar em contato com você -pode respirar feliz-. Essa não é uma carta "combinado", nem uma promessa, é um juramento, que no dado momento não causa nenhum tipo de sofrimento.Depositei em você o que tinha adormecido em mim desde o dia em que te beijei - e sem entrar nesse lance de procurar loucamente culpados, assumo totalmente a culpa, que já não me pesa- o amor que é sempre próprio, envie-o todo a você, que acorrentei a mim como um espelho único de mim mesma. Quando você se foi, fiquei sem referencia e me perdi no poço sem fim de mim -sabe que depois de um tempo no fundo do poço, dos poços, a gente começa a achar coisas bonitas dentro dele, não sabe?- agora porém submergi a superfície muito melhor, conhecedora das belezas dos poços de mim, e não mais irei rastejar doentemente, por qualquer caco seu que me reflita. Estou cortando o laço. O vidro que caiu em mim, era um blindex -aquele vidro transparente que não reflete nada- enorme, me cortou, doeu, mas ontem parou de doer e na sexta já tiro os pontos. Será só uma cicatriz. Assim como você, que já não me doí mais e já não reflete, que era o vidro preso na minha barriga. A cirurgia foi um sucesso. O anestesista estava inspirado. Se eu evitar o sol por um tempo, não deixará marcas.Respire feliz, esta é a minha última carta e ela já está acabando.As ciências que estudam o homem (nessa inclua a sociologia) possuem essa peculiar caracteristica de dar significados mundiais a palavras abstratas, o que me agrada confesso. De acordo com elas amor e compaixão possuem ignificados distintos.O amor seria o desejo de ver o outro feliz, já a compaixão, o desejo de que o outro não sofra. Poderia afirmar que lhe tenho compaixão, porém ao escaranfunchar-me não o farei. Essa mesma ciência, diz que somos ignorantes perante ao o que desconhecemos, eu também não posso ignorar-te, uma vez que a conheço, mesmo que você deseje que não, sei muito desse apanhado de incoerências que te constituem.O que então sinto por você, ou melhor, o que o fim do você em mim me provoca é tranquilidade - tranquilidade não treme o sexo, não causa o ódio, não provoca o ciúme, nem de propósito e nem sem querer, não traz a dor e o medo do abandono. Aí na tranqüilidade, você pode deitar-se e descansar, respirar.-
Enfim o fim.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sobre tudo que existiu

Sobre tudo que existiu
Para F.C.C.C
Vendo o último capítulo de "Som e Fúria" foi inevitável pensar em você. Ellen (Andréa Beltrão) chorava emocionada com a encenação de Romeu e Julieta, porém havia ressentimento no seu choro, havia magoa. Ela dizia: "Não existe amor assim. Essa peça é uma grande mentira.", Dante(Felipe Camargo) ao seu lado, assumiu sua identificação com um protesto; "Para mim essa é a peça mais realista de todas. Dois idiotas se apaixonam, vivem essa paixão por um tempo curto, e aí dá merda."
Eu concordo com Dante, acredito nesse amor todo, acredito nessa paixão descabida.
Tivemos ela, você abandonou um relacionamento estável e tranqüilo de dois anos, eu rompi com minha família.
Subimos depressa a escada do castelo, nos faltou ar, ficamos tontos, e ai... E ai perdemos o sentido, a realidade, o eu e o você. Eu perdi o eixo, você parou de achar graça na minha loucura. Jamais sobreviveríamos a leviandade da liberdade das leves ações. Bastaria um toque se fossemos livre.
Subir assim, nesse calor, dá tontura e olhar pro sol daqui de cima, nós deixaria cegos... Ai os erros, os erros são tatuagens escritas com navalha, que expomos na areia. Arrancam as boas lembranças e com dor eternizam as magoas e a incompreensão.
Sinta meu perfume, enquanto a brisa desvairada do tempo, sopra a minha presença de ti.
Os olhos mudam de cor e nos desafortunados, percebemos, como bons atores que somos, que o texto, embora poético, é de adeus, mas agora quem sofre é o ator e não o personagem.
Pronto mais algumas e você me devolve a câmera que te dei, mais outra pagina e agora sou eu quem te devolvo presentes. Pronto, mais um pouquinho e agora sim... Podemos nos soltar pelo espaço. Livres. Serenos. Talvez tristes.
É isso meu amor, você já apagou até mesmo o que me escreveu. Seu coração está leve - de novo- com seu amor tranqüilo(eu acredito em você, sempre acreditei).
A tranqüilidade não treme o sexo, não causa o ódio, não provoca o ciúme, nem de propósito e nem sem querer, não traz a dor e o medo do abandono. Aí na tranqüilidade, você pode deitar-se e descansar, respirar. Você não vai precisar acordar no meio da noite.
"Amar proibido é muito e causa tanto estrago"
Por isso vamos, seguiremos em frente.
Devo pedir perdão pelas noites em que te toquei, é o fim agora.
Vamos, vamos...Eu já posso soltar sua mão. Eu já posso ir.
Esqueça ou lembre.
Coração partido tem cura.
Essa ansiedade maluca. Não mais aquela que você bem conhece -por doces- mais uma capaz de me estourar inteira. Uma que aguarda qual quer comunicação que venha trazendo mudanças... De mudança mesmo, só a cor do cabelo, a cor da pele e o peso.
Essa minha impulsividade, essa mania; de por que? A lata do suco estala. Por que o metal estala?... Não entendo nada de metais. Entendo de culpa e dessa solidão de incensos.
Um banho de chuva e tudo muda. Jurei para mim mesma. Pesquisei e revirei tudo que podia no que fomos, só sobrou uma dúvida, você me respondeu.
Com um respiro forte meu coração se acalmou, e sorriu.
Não tinha o peso do amor-paixão, pelo menos, não para um lado da estória. Então os meus erros tornaram-se menores, não se espera grandes coisas de uma aventura, meu fracasso não foi tão grande. Mas para a organização geral da minha mente, eu precisava(a velha mania da necessidade) entender de qual tipo era o amor -se é que é possível tipificá-lo - me atrevo a dizer que o que existiu pra você foi uma grande amizade, existe muito amor entre amigos. Você voltou para sua velha boca.
E eu andei por um tempo beijando muitas bocas para esquecer a tua. Fiz uma faxina e selecionei ainda mais minhas companhias, me dediquei a curar minhas manias. No meio disso tudo, acabei por conhecer o meu grande amor, aquele que vai estar sempre comigo, um alguém chamado EU.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Leila Diniz

Percebo que existe uma tremenda inversão nos conceitos e pré-conceitos que a sociedade constrói. Incoerentemente, a doideira maior não está na Leila Diniz, que transgrediu com o coração aberto, honesta consigo mesma acima de tudo.

Cada vez que leio e releio, e reflito minhas pesquisas sobre ela, ouço o barulho de uma máscara deslizando pelo rosto, quando questiono, e me vejo emaranhada na falácia da liberdade de corpos –atachados a convenções estéticas – a liberdade de escolhas – atreladas ao aplauso de uma platéia que criamos, e que, na realidade, não existe – a liberdade de pensamento – de papagaios que repetem idéias de fora para fora.

Não é um tributo ao passado ou uma nostalgia boba do que já foi. Apenas uma admiração que surgiu durante uma leitura e que me fez perceber o que eu ainda não sou, em pleno ano de 2009.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

"...você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente"

Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo..."

Simples

Nas épocas de alegria pacifica costumo abandonar a escrita, como se tivesse adotado-a como libertação de excessos. A dor e o vazio impulsionavam a busca do preenchimento, a alegria euforica traz consigo uma fluidez incansável. Hoje é paz, escrevo em paz, uma paz alegre.
Uma avenida movimentada, a cabeça cansada após uma viagem longa, a ansiosa procura pela rua certa, a distração. Um carro forte vindo na direção.Colidem então. Por sorte, por MUITA sorte eu era sozinha naquele dia. Perda total de um bem material, mas nenhuma perda humana. Entre o tumulto ainda zonza ouço murmurinhos; "Acho que ela fica aleijada", "Provavelmente tá morta". Com um esforço abro os olhos, estou viva. O banco lateral tomado por ferros e uma dor no pescoço que não me deixava respirar. Chega a ambulância do corpo de bombeiros, vou na maca tomando soro, choro. Naquele instante vi minha vida inteira passar, me libertei de velhos fantasmas, tentei contato com um na certeza de que precisava pedir perdão, o fantasma não surgiu, libertando da culpa, do momento que era verdade quando ele trouxe a duvida.
Sai dali depois de 04 horas e já podia sentir as pernas novamente. Respirei livre, leve, como a tempos não fazia. Que sensação nova. Chorei de alegria, eu não desejaria morrer nunca mais. Ganhei um presente. Poxa havia perdido o teste, não, não havia não. A dor era grande o enjôo também, todos diziam que era loucura, mas eu realmente queria, eu realmente desejava, vim de muito longe para isso. Eu fui. Fui e com a minha ida ele também veio. Tenho certeza de que com todas as bênçãos. EU NASCI DE NOVO. Sou grata e leve, leve como o vento.
De uma família incrível, de amigos amados, de arte no inspirar e no espirar, um novo projeto cheio de amor, um amor novo. Estou cheia de amor.
OBRIGADA.
SIMPLES ASSIM.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Porra nenhuma

Quanta graça tem na simbiótica dança das mascarás
Venho hoje tirar o disfarce
E que se dane a filosofia que prega contra o ato de adjetivar
Eu faço parte desse grupo
Porém hoje vou como de costume me contrariar.
Sou a melhor e a pior de mim
Sou sanidade insana
Conto mentiras para me transforma
Sei ser o que você quiser
Prefiro ser o que eu quero
Mas quase sempre faço questão de não ser nada
Sinto culpa nas madrugadas doentes
A euforia me contagia vez em quando
Me disseram genial
Me disseram mau-caráter
Anjo.
Porra nenhuma... Sou porra nenhuma.
Gosto de fazer zona no meu inconsciente
Tenho medo de morrer de qual quer coisa que não seja eu mesma.
Me pergunto sobre mediocridade
Sou duvida
O apego me pegou certa vez
E confesso que até hoje ele me persegue
To sempre seguindo alguma coisa
Qual quer coisa que não exista
Não faço questão de ser original
Não faço questão
Sexo é tabu.
Eu sou mais teoria do que pratica
Mais achismo que cultura
Hoje até pensei por um segundo
Que muitas vezes eu sou massa.
Porra nenhuma...Sou porra nenhuma.

A Alegria descabida

Tragam-me uvas Dionisíacas.
O vinho que me foi proibido de volta.
Libertem os loucos do hospício, vejo a arte se esvaindo.
Não há arte sem loucura.
Quanta contradição há em mim essa noite.
Domada por uma euforia em fúria
Que clama orgasticamente por arte.
Não tenho mais medo de ser vendida
A prostituição também pode trazer o gozo
Escolham a dedo seus clientes.
O que eu falo não se escreve
O que eu escrevo não se diz
Sentido é algo que desconheço
Poderia ficar noites sem dormir
Cultivando essa luz trevoica.
Brotarão frutas dessa noite
Brotarão.
Logo serei parte da mídia
A voz chegará a massa
Então hoje pela última vez posso dizer
O que continuarei dizendo amanhã
Besteiras inúteis
Sobre isso que habita meu ser:
Riam.
Esse é o único intuito da dor
Causar risos.
E de promessas eu não vivo
Não sei cumpri-las
A não ser uma
Não me acabarei em pontos previsíveis
Não tomarei pausas
Eu nunca aprendi o uso correto das virgulas e dos acentos.
ISSO NÃO ME INTERESSA.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

"Pra sempre Alice"

Poema-samba, baseado no livro "Para Sempre Alice"
O homem em sua atmosfer se rebela,
Se revela
Em um outro continente o homem mente,
O homem mente
Num samba cantando se desfaz
No vem-e-vai, ele se vai
O homem que se parte
Vira parte
Vira todo
Fica torto


Ai homem bonito,
Homem buraco
Peito vaizo
Andar sombrio
Corta essa dor com navalha
Sangra esse sangue, desmaia
Morre no peito dela
Ela não era donzela.
Não era.

Tayana L. Dantas

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Comer. Rezar. Amar.

"Tenho problemas de limites com os homens. Ou talvez não seja justo dizer isso. Para ter problemas com limites, é preciso primeiro ter limites, certo? Mas eu sou inteiramente tragada pela pessoa que amo. Sou como uma membrana permeável. Se eu amo você, eu te dou tudo que tenho. Te dou o meu tempo, a minha dedicação, a minha bunda, o meu dinheiro, a minha família, o meu cachorro, o dinheiro do meu cachorro, o tempo do meu cachorro - Tudo. Se eu amo vcê, carregarei para vcê toda sua dor, assumirei por vcê todas as suas dívidas (em todos os sentidos da palavra), protegerei vcê de sua própria insegurança, projetarei em você todo tipo de qualidade que você, na verdade, nunca cultivou em sí mesmo e comprarei presentes de Natal para sua família inteira. Eu te darei o sol e a chuva e, se não estiverem disponíveis, te darei um vale de sol e um vale de chuva. Darei a você tudo isso e mais, até ficar tão exausta e debilitada que a única maneira que terei de recuperar minha energia, será me apaixonando por outra pessoa."

terça-feira, 30 de junho de 2009

CRIANÇAS IMPLORANDO PELA APROVAÇÃO DOS PAIS

Identidade
Por Flavia Dalla Bernardina
Quem procuramos? Não vemos nada. Por onde andamos? Não temos bússolas. De onde somos? Não temos mães. Somos todos…
…traçados de identidades reafirmadas. Tropeços de identidades sangradas. Pela identidade sorrimos e matamos. Pela delimitação do próprio espaço ignoramos. Pelo aumento do próprio espaço nos sujeitamos.
Ignoramos os diferentes. Sujeitamo-nos aos poderosos. Sorrimos aos semelhantes. Matamos os indesejados. Traímos os fracos, aproximamo-nos dos oportunistas, calamo-nos frente aos inteligentes, suspiramos nos braços do apaixonado. Odiamos os espertos.
Ruminamos as regras impostas. Saímos pelas portas dos fundos. Choramos as mágoas passadas. Esperamos pelo verbo que consola. Tentamos refazer o caminho, que já foi percorrido. Tentamos a todo custo resgatar os momentos, que já foram vividos. Privamo-nos de qualquer alegria injustificada.
Tentamos viver legitimamente dentro dos nossos próprios desejos, bocejando dentro do nosso próprio esforço. Faltamos a aula que ensina, que não alcançaremos a felicidade se disfarçada em armaduras de realizações alheias.
Abanamos o véu para o tédio. Para as conversas tediosas. Para as pessoas tediosas. É vergonhoso não nos sentirmos um prolongamento do outro. Essa deve ser a nossa grande falha.
Permita-nos ser genuinamente felizes, por ditados que nunca foram escritos, pelo chão onde nunca se caiu, pelas casas onde não há camas. Permita-nos parir do ventre, sem rasgos e com dor.
Deixe-nos pensar que as conexões existem e são verdadeiras. Que nossos pensamentos são só nossos e que não abominamos a concorrência. Queremos a todo o tempo escolher. Nas trocas e interações, desprezamos a idéia de sermos escolhidos.
É árido não nos sentirmos um prolongamento do outro. Essa deve ser a nossa grande prova.
Salve-nos de toda a segurança. Do desleixo excessivo com o filho. Do zelo excessivo com o filho. Dê-nos a cura contra a assepsia que insistem em injetar em nossas veias.
Reforce a nossa crença, quando sentarmos para descansar. Desmonte a nossa cor, quando nos sentirmos únicos. Desmanche a nossa maquiagem, quando nos reconhecermos belos.
Reprove-nos quando acharmos que é tudo verdade. Faça-nos duvidar de nós mesmos, quando estivermos confiantes. Faça-nos duvidar até mesmo de nossa intuição. Ela pode ser a porta-voz latente de anos de manipulação sedimentada. Faça-nos crer em nossa intuição. Ela pode ser o mais alto grau de pureza que existe.
Mantenha-nos em nossa condição de errantes, mas não sobreviventes. Vivos, sagazes e inocentes. Para quando encontrarmos o inimigo, avistemos em sua face a estampa de nossa caricatura.
E dai-nos alguma paciência, para que em certo ponto não muito tarde da trilha, esqueçamos que somos todos…
…crianças implorando pela aprovação dos pais.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

De VINI

AusênciaEu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são docesPorque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vidaE eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperadosPara que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoadaQue ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinicius de Moraes
"Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele."
Victor Hugo

domingo, 21 de junho de 2009

Despersonalizção

Despersonalização.
“O bom ator não é aquele que quer aparecer. O bom ator é aquele que quer desaparecer.”Peter Brook.
Com o auxilio da professora de filosofia da arte Thereza Rocha, criei um conceito metafórico, sobre o que considero que deve ser a luta diária do ser artista. Descascar- se.
De acordo com Thereza, ninguém é, ninguém está, todos devem. Estamos todos em processo de transformação a nada, ou seja, um processo infinito por tornar-se o que nunca de fato se concluirá. Não há, portanto um núcleo, uma essência. Eis minha metáfora: somos cebolas, somente cebolas. A cebola é revestida por muitas cascas, olhando para uma temos a impressão de que ela seja uma bola solida e que ao final das cascas haverá um núcleo. Ledo engano. Não sobra nada no fim das cascas.
O nada é invisível, ele tudo adere, ele não se distingue, no entanto, sendo nada, ele faz parte. Esse é o processo do ator antropólogo, o de descascar-se, o de não se encerrar em quaisquer pontos, não buscar um percurso pronto. O ator antropólogo não é definível, porém talvez eu pense que ele não se aponte em vírgulas previsíveis.
Quanto menos cascas mais próximo da arte está a cebola, Quando o artista se torna obra, ai sim. Talvez seja essa a busca do ser - humano a de tornar-se obra. Como diria Fernando Pessoa, o poeta que reconhecidamente não era nada(por ele mesmo): “A arte é a auto-expressão, lutando para ser absoluta”.
O abrir mão do olhar que se limita ao campo das probabilidades, para estendê-lo ao campo das possibilidades, é o que mais anseio. Quero poder um dia me misturar com o meio, libertando-me de todas as cascas que limitam a minha conexão.
Eu que não sou uma foto, nem tão pouco uma organização. Talvez seja, talvez seja. Mas não quero mais, não quero ser coisa alguma.
A interminável busca por ser, já não parece mais ser.
Eu que tinha uma ilusão bem construída de mim mesma, fiz a escolha de desconhecer-me a cada segundo, e às vezes quando o mundo se faz dor, eu não posso voltar pra casa, por que eu não tenho mais uma casa.
Tudo bem, que devenha assim. É uma escolha.

sábado, 20 de junho de 2009

Bom mesmo é ser ninguém pra poder ser tudo e mesmo assim continuar a ser nada. Sem rótulos, sem adjetivos. Só movimento, solto. Quem sabe até desconexo. A quebra do campo das probabilidades e a direção do olhar as possibilidades. A busca por “ser” já não é mais.
Senhora menina e suas cascas.
Que bela jovem era aquela. Tinha nela alguma poesia, uma filosofia qualquer. Não me parecia ter lido, assim tantos livros, mas parecia saber de algo, algo que talvez não tivesse aprendido, algo que talvez tivesse percebido. Ela tinha uma maneira peculiar de olhar, uma maneira peculiar de se movimentar. Seu movimento era em direção ao outro, ela se olhava no espelho do outro constantemente. Mas o que será que havia de irreal no encanto que ela causava? Será que por intuição ela sabia o melhor ângulo para cada espelho? Será que ela se contorcia para ficar na melhor pose? E o pior, sim, eu suspeitava do pior... Todo aquele malabarismo machucava os músculos da senhora. Ela em algum lugar ainda não havia percebido, que naturalmente já era linda. Que não era necessária nenhuma pose extraordinária para enfeitiçar o espelho. Não, não aquela menina. Ela era magia nas lentes fotográficas, e parecia ainda melhor nas lentes que captam movimento, sim, ela era movimento.
Até que um dia, a menina decidiu que não queria mais ferir seus músculos para agradar espelhos, ela enfim descobriu que a única pessoa que vê o reflexo é ela mesma. Sim, ela descobriu que poderia ter mil espelhos, poderia fazer mil poses, mas só veria a ela mesma, e só ela, só ela a veria. Já que o outro, também veria a si próprio no reflexo dela.
Houve um dia em que a menina se apaixonou por ela mesma através de um espelho, um espelho que a fazia se movimentar. Mas havia uma certa pintura naquele espelho, uma pintura estranha que a impedia de ver alguns detalhes.
Aquele espelho de fato não era um espelho normal. Tinha qual quer coisa nos seus olhos que não se faziam entender, tinha uma filosofia em movimento de contradição, de ebulição ou seria, de implosão? Às vezes era invisível, às vezes a tornava linda. Mas isso de se perder cansa e fascina, fascina e cansa. Era muita contradição, eram mentiras sinceras, logo ela que dizia se interessar por mentiras sinceras. Aquele espelho pelo menos teve valia, na sua loucura de pólos desconexos, deu a mão para e menina e ajudou a descobrir seu nada.
A menina começou a arrancar cascas, aquele espelho exigia muita energia, fazia bem, fazia mal. Estava sempre em eminência de partida, partida que não se concretizava. Aquele espelho era expectativa, era promessa. A menina passou a querer concretude, a menina não queria mais uma promessa, ela queria um presente. Mas o presente do espelho era como seus olhos, hora intenso, hora distantes. O espelho amava o reflexo de si nela, porém as vezes se assustava. Ela num dado momento se assustou também. Havia alguma coisa de errado na pintura daquele espelho. A pintura mudava de cor. A menina resolveu então que quem iria partir era ela. E partiu. Ela partiu o espelho também. Que hoje em fragmentos reflete outras coisas. Ela também reflete outros, também se fragmentou e se descascou ainda mais.
Talvez ela nem lembre mais, talvez sim. Um dia talvez foi a última coisa que ela disse se olhando no espelho. Um dia talvez ela se torne amiga do reflexo que enxerga naquele espelho, agora ainda é confuso demais.
Um dia... O espelho que hoje reflete outros amores, outras filosofias, guarda a lembrança do reflexo da menina, sem contorcionismos. Ele não guarda seus movimentos em fotos e até mesmo os retratos que o espelho tem dela, são fragmentarias, misturadas. O espelho já sabia em algum lugar. O espelho misturará a menina com o ambiente. Ele queria, ela também. Ela nada, ele nada, ela tudo. Amizade.

domingo, 31 de maio de 2009

Tradução da carta de Alfred:
Jovem Tayana,
Peço lhe humildemente que jamais se esqueça dessas palavras:
Eu sou um jovem senhor de 50 anos, onde metade deles foi dedicada a vocês, estranhas figuras (atores).
Nesses 25 anos de labuta, fui treinado para reconhecer uma estrela, e posso te garantir que nunca falhei. Acreditava, porém, que raramente uma estrela jovem pudesse brilhar demais e confesso, não consigo enxergar tanta luz na maioria das jovens atrizes. Porém você, notoriamente, me iluminou.
Lembro bem, você sentada sozinha, no banco do corredor, com cabelos bagunçados, chorando. Eu me sentei ao seu lado, nos nunca havíamos nos cruzado antes, perguntei: “Qual o motivo de tanta dor”? E você abriu um sorriso enorme, que quase me deixou cego, e rindo, e chorando, você me respondeu: “Não tenho idéia”. Naquele instante, eu tive certeza de que você era uma estrela, uma das maiores que já vi em toda a minha vida.
Sua beleza não é o que chamamos de padrão esperado, se olharmos como um todo, seu rosto é doce, é leve, mas se analisarmos os detalhes veremos que possui traços muito fortes.
Há na sua juventude uma complexidade intelectual. Vejo nos seus olhos uma genialidade, uma loucura, marcas essas que só encontramos em grandes nomes da humanidade.
Não me preocupo com sua arte, sei que será gigante, sei que entrará para a historia. Eu quero estar ao seu lado, quero segurar na sua mão, porque sei que apesar de mulher, você sempre será uma menina.
Não tenha medo, você sabe que brilha muito, que nasceu para ser vista, por favor, não esconda seu rosto, não se assuste com o seu tamanho.
Do seu querido amigo,

Alfred Hillu

Contatos:
(01)22345676
alfredh@actors.org

sábado, 16 de maio de 2009

DEVIR

Andei de um canto a outro e deixei meus rastros, rastros que mudam tanto quanto meus passos. Passos que mudam tanto quanto eu. Inexistência do eu. Eu que não existo mudo a existência do não existir. O partir que parte passa a vir ao encontro de tudo que vai. Tudo que vai fica, tudo que fica vai, vai e transforma o que foi, ficando onde deveria estar. á um minuto atrás se foi e voltou de um jeito imensuravelmente diferente. Foi e ficou na eternidade do segundo que se atravanca na mudança do amanhã, para o sempre do ontem. Mudou na segunda-feira, mas tudo é igual, com exceção de tudo.Ficou.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Finalmente Los Angeles

Na segunda tentativa tudo da certo, eh oq minha mae sempre me disse. TENTE OUTRA VEZ. Eu tentei, venci meu medo e entrei naquele aviao, Deus como recompensa me deu o mais traquilo voo possivel.
Apaguei em Sao Paulo e acordei aqui.
Sonhei durante todo voo com alguem que ficou e isso foi lve, gostoso.
Esse eh o inverno masi quente dos ultimos 80 anos na California, e eu me sinto completamente acolhida pelo calor da cidade.
Aprendi a colocar gasolina no carro, a lutar esgrima, e um monte de outras coisas. Os perrengues vem chegando devagarzinho, mas ta tudo tao gostoso... Meu primeiro dia no Actors foi magico, ao entrar no Campus entrei em extase.
Posters enormes, fotos de grandes mitos sentados nas mesmas cadeiras que agora eu sento, isso eh inexplicavel.
Eu abro a porta da sala Robert(um dos maiores professores de teatro do mundo) me cumprimenta :"Brasileiera? Como voces sao lindas. Tao emocionais." Eu me emociono na hora, ele ri. Compreende-se tanta coisa, tantas outras ficam presas, como um no. Eu sento no chao e me reconheco, o exercicio eh incrivel, eu choro como um bebe, alguem me abraca. Dor e alegria...Eu saio da aula para dar uma volta, vou tomar um cafe em Malibu com um amigo. Sento em uma cadeira, ele ri percebendo que eu vou ver, eu vejo. Cameron Diaz na minha frente. A noite cai rapidamente num por do sol inacreditavel(o mais bonito que ja vi). Eu volto e troco de roupa, vamos a festa do Globo de Ouro. Muitas fotos, muita gente, muita gente mesmo. Um tapete vermelho separa. Eu passo pelo tapete vermelho, isso eh realmente estranho. Sinto uma melancolia inexplicavel, ou facil de explicar; Estavam todos ali, eles sao tao humanos, ate qndo nao o sao. Eu me apoio no Milles, ele me estende a mao e percebe o meu estado. Sim voce precisa saber o que quer em Los Angeles, tudo soa tao estranho aqui. Eu amo isso tudo, mas isso me assusta. Sao so pessoas.
Eu conto mais, logo.

Tay.