domingo, 19 de dezembro de 2010

Para Carol Gracinha

Ando sem saber da gente, com saudade de mim em você. Sinto que o tempo anda tão sem tempo, estamos duras por falta de abraço. To cansada de não matar cansaços nos seus olhos, lago.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Essa dor que me consome
Essa dor sem nome.
Que me arrancou o sobre-nome
Que me escondeu no que eu já sou
Que me engoliu no mundo
Essa dor que me fez mudo
Surdo e burro
Essa dor ficou.


Desescolhi a prisão facebookiana. Escolhi me recolher de olhares duvidosos.
Ando pensando que se fomos feitos a imagem e semelhança de Deus, esse não pode julgar, esse é também psicopata. E se o homem mata, aprendeu com ele.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Nome de anjo.

Será que caiu do céu? Um anjo sem asas? Um menino com nome de anjo, baba sobre a calçada, seu corpo treme causando desespero na acomodada burguesia do Rio de Janeiro.O tumulto na calçada faz com que eu freie minha bicicleta. Olho o rosto do menino, na sua mochila nenhum documento, a carteira vazia, só uma foto, de uma menina. Seria um amor? Seria sua irmã? Ela é jovem e negra como ele, na foto sorri, mas parece triste. Rafael acordo do mundo gelado e volta ao calor de 35 graus que fazia essa tarde. Ele pede água, alguém da multidão diz que ele não deve beber água. Rafael diz que se chama Rafael e alguém pergunta sobre remédios; eles esquecerá de tomar seu Gadernal. Rafael volta para o mundo que castiga seus músculos, e treme e baba, como se assim expulsasse uma dor. Rafael parou a calçada de Ipanema, em frente a um salão de beleza da Visconde Pirajá, naquele momento uma senhora não pode fazer suas unhas, um senhor deixou seu sorvete derreter, uma moça se atrasou para o personal traineer e eu parei minha bicicleta. Rafael se foi com o corpo de bombeiros e as pessoas voltaram ao seu movimento. Continuei ali um tempo. Uma menina de uns 13 anos, conta para alguém no celular o que viu. Tudo voltou ao normal.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

E se eu não sei trazer o riso ao seu rosto, não quero ser quem te derruba lágrimas. Minhas frutas verdes caem do pé antes do tempo, mas o sabor é um pouco ácido e seu estômago é fraco. Vai, porque ouvi o jardineiro dizer que nas árvores da redondeza existem frutas maduras.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E eu sempre fui perdido, perdido no vão das saias das mulheres da minha vida. Perdido no entre das coisas. Eu que sou homem de muitas palavras, que sou ser de muitas amarras, nunca fui um de uma só. Andei abismado, habitador de abismos que sou, vivo em uma queda eterna, assim como sol, eu nasci para morrer. Ontem andando na praia eu reparei que. Menina da blusa amarela, toda vez que abro sua janela, o sol se mata no arpoador. E eu vaguante das luas desertas das morenas e loiras que me abrem as pernas. Eu viciado no liquido viscoso que elas derramam em gozo, preciso me tratar.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

É que conceitualmente não existe morte melhor que a escolhida. É que concietualmente, acho bonito o suicida.
Acho que se Deus de fato existisse, não seriamos amigos.

nadica de pitibiriba

Quem sou, eu quem sou? Sou o nada amontoado em amor. Eu quem sou se não o que sobrou do que vivi. Eu o que sou se não o que ficou do que já senti.

Para a senhora de cascas

Ela, de cara lavada, mudava de calçada se visse o ex-amor. Eu me pego pensando, como duas pessoas que diviram a cama, não conseguem mais nem dividir uma calçada.E ele que já havia visto ela nua tantas vezes, agora precisava se pôr no lugar de estranho que se tornara.

Não sei falar, nunca soube.

Comecei a escrever porque dizer sempre me foi esquisito. O silêncio da boca me ensinou a gritar com dedos. Não sei falar, por isso escrevo.
Ei você, dança comigo?
Você precisa escutar o silêncio.
Ei você, dança comigo?
O solo das cores. Esse barulho ensurdecedo que faz aqui em casa. Confesso que foi dificil ouvir o vermelho sem chorar, desde o dia em que as cordas do violão cortaram seus pulsos.
Anda pensando que deixar a coisa pela metade é sua forma de completa-lá
Eu sou uma menina do mar, será que as rugas me chegam antes?

URGENTE. Deus deu as caras por aqui.

Aviso: Deus decretou que todo homem ruim, vai renascer um mês após sua morte, olhar para o seu corpo podre por 15 minutos e morrer de novo.

Astros suicidas 2

O sol vive a cometer suicídios em uma morte interminável. E ninguem, nenhuma clinica psiquiatrica, ou o juizado de menores, nunca tentou impedir isso.
Você já reparou como é morbido? Pessoas fazem pedidos a estrelas cadentes. Será que elas não entendem? O que uma estrela, desesperada, em plena queda suicida, pode te dar? Ela só quer morrer no mar. Como eu, que quero minhas cinzas por lá.

Coração de brigadeiro

Deixo meu peito fechado,
Por ter um coração doce
Não quero que as formigas
E as baratas
Façam uma festa.

Foto

Nas caixas abandonadas no sótão havia alguns álbuns. Eram dezenas de fotografias amareladas (de pessoas com sorrisos amarelos em suas poses programadas). Entre tantas polaroids desbotando, encontrei uma dela: o jeito esnobe, o olhar tímido, o enquadramento equivocado. Ela foi o melhor de mim e isso, por incrível que pareça, não é um elogio. p

domingo, 7 de novembro de 2010

O olhar matinal do inimigo

E é mesmo muito assustador me olhar no espelho essa manhã. Depois de anos amiga dos comprimidos, achava que a alteração era minha, e não apenas deles. A loucura é mesmo essa moça insistente, que cria raízes no centro da dor da gente. E por mais que eu bata as pernas, ela vai sempre acompanhar meu estado limpo. É assustador ver a cara do inimigo no espelho e reconhecer a enorme semelhança. Esse outro eu, que é tão mais forte do que eu.

Quando eu quis ser Henry Miller

E eu sei pelo gemido
Que carrego em meu ouvido
Que você se masturba
Pensando em mim
Faz festinha com a minha boca
Que já não quer mais a sua
Nem de roupa, nem nua.
Ai menina, vai desliga a lua
E quando eu passar, você pode virar
Me fazer de estranha
Mas menina,Eu penetrei suas entranhas
Você dormiu na minha cama
E sonhava com cegonha
Mas eu já te vi pelada
Você pode até
Mudar de calçada
Com sua cara lavada
Mas eu já te vi pelada

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Era tudo tão difícil, tão difícil, que, exausta, eu desisti.
Isso não quer dizer que eu deixei de amar. Isso quer dizer que eu desisti de sofrer. E, quem sabe, também, de causar sofrimento.
Ana.
Meu abismo seu
Seu abismo eu
Cheiro de medo
O buraco negro do olho
Me contou a verdade do outro
Me jogou no furacão do rio
Da flor que sai do poro
No meio do arrepio
Meu abismo seu
Seu abismo eu
é o que levanta a poeira, menino
O sino da minha cadeira
Mas a poeira
É só a vontade do chão de voar
Mas a cadeira
É só a vontade de descançar.

Ps: Não tenho medo dos abismos debaixo dos meus pés. Eu sei cair, eu sei voar.

Para Maria Ana, ou Mariana

Sua unha arranha
Os meus discos de amor
Sua vitrola solando
O avesso da dor
Tudo que eu não sei te cantar
Tudo que não consigo falar
Seu barulho gozando
O seu olhar me suando
Tudo que eu não sei cantar
O meu silêncio urrando
O seu nariz desconfia
Do meu querer
Tudo que eu não sei fazer
Tudo que vou aprender
O seu amor
Enfia em mim.
Tudo que não sei gritar
Tudo que não sei chorar
O seu nariz desconfia
De quem conserva a agonia em estado de moinho
De quem move o sorriso da barriga em abismo
A beira da queda
A um passo do céu
Próxima demais da finitude
Co-ciência de miudezas
Transitando no silêncio da defesa

"Caio por ti"

É preciso ter um dom divino para se cair na solidão das coisas.Eu caio sóh, e nada é mais bonito que cair só.
Rio
De um janeiro longínquo
Rio de cristos, de vincos
Na minha existência
Vê se me explicaSe renda
Em todas as suas facetas
E estreite suas alamedas
Até o alcance da envergadura
De meus braços abertos
Que é pra eu sentir a superfície dura
Desses seus segredos.
Deixe-me ir andando e sentindo
Com atenção de ponta de dedos
De um lado o chapiscoA fuligem, o risco
Do outro as curvas das morenas
Dos arcos da Lapa, o riso
A Urca, o mar de Ipanema
A solitude dos nossos recreios de varandas
E todas as coisas que se tocam:
A bossa, o samba, os corpos
Com suas bocas e falos
Ventando seus mistérios, seu som
Seu tom - Antônio Carlos,Rio, é sério:
Você, que é tão grande que não coube
Em só uma canção
Foi se alojando, santo e ébrio
Sem sobras e sem cerimônia
Nas minhas horas
Memórias
Meus foras
E meu coração.
Por favor Rio, me livre de pedir
Perdão

Para Kiari

Quando você se sentir sozinho, menino de chuva, pegue o seu lápis e escreva. No degrau de uma escada, à beira de uma janela, no chão da calçada. Escreva no ar, com o dedo na suas gotas, na parede que separa o olhar vazio do outro. Recolha a lágrima a tempo, antes que ela atravesse o sorriso e vá pingar pelo queixo. E quando a ponta dos dedos estiverem úmidas, pegue as palavras que lhe fizeram companhia e comece a lavar o escuro da noite, tanto, tanto, tanto… até que amanheça.
Ei você, vem comigo que eu vou te ensinar a dançar o silêncio. Você precisa aprender, como eu aprendi, a escutar o som das cores, o som da mudez. Esse barulho perturbador que toca aqui, todas as noites, desde que as cordas do violão cortaram seus pulsos. Confesso que foi trabalhoso e doloroso me acostumar a o...uvir o vermelho sem chorar.
Ana

Sem o "Tay" sou "Ana"

Em o "Tay" eu sou "Ana"

Palavras escritas por mim, ou melhor, escritas po Ana, minha personagem em "As Horas Vulgares"

Mais que de carne, osso, sangue, veias, sexo
Sou feita da ausência
Ausência pontuda, rasgada e ardida
Minha extensão toda loucura rompendo a pele
Vindos dos debaixos da alma.
Não há calma, sempre taquicardia
Nunca é dia, ninguém se aproxima
Do breu, da noite que me tornei.
Me arrasto no movimento quase intangível de mil perninhas
Meus passos de bailarina mofada, que fugiu da caixinha
Sobre o chão liso demais das faltas mais fundas.
Dentro da minha noite aguda, Gil dorme pra sempre.
Muda de posição, sofre seus espasmos noturnos
Sonha descaradamente
Diante de meus olhos insones
Diante da minha fome
Da minha estranha arquitetura de agulhas
Veneno, inflamação
Chamas, incêndio, sirenes, pavor, tesão
Amor.
Enxame de abelhas, canteiro de obras
Escombros
Uma parede emassada ali
Muitos pregos.
Um quadro da mãe que acordada para sempre, me zela muda, sem sorriso.
Mel escorrendo grosso pelo pé direito
Pelo lado de dentro.
Por fora só esse silêncio.

Ana Vulgar

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Menina de preto

Quando notou que não cabia no mundo, construí um mundo para ela. A menina estranha que se trancava no quarto com seus livros e discos, com seus medos e sonhos. A mãe tão bonita, de cabelos loiros e olhos azuis se culpava pelo fracasso que era a menina de preto. Ela não gostava de balet, era surfista, com suas bermudas dadas pelo pai e seu skate, ela envergonhava a moça de olhos azuis, que chorou quando finalmente percebeu que.
Ela escrevia poemas, foi considerada gênio, mudaram ela de escola, a mãe ficou orgulhosa, o pai riu. Ela riu. Mais tarde também foi considerada louca, com seus braços sangrentos e sua boca maldita.

Ah mas ela era normal, ela ouvia Avril. rs.

http://www.youtube.com/watch?v=Hbm4G_7rGzQ

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Costumo acreditar que, em grande parte das circunstâncias, por mais incrível que às vezes pareça, o outro está fazendo o melhor que pode e se não faz mais é porque, embora queira, ainda não consegue. Acredito nisso porque costumo lembrar que, em grande parte das circunstâncias, por mais incrível que às vezes pareça, faço o melhor que posso e se não faço mais é porque, embora eu queira, ainda não consigo.Generosidade é também questão de memória.

sábado, 14 de agosto de 2010

A cor do avô

Meu avô tem uma biblioteca gigante na casa dele, deve ter pra lá de quinze mil exemplares. Isso significa que se ele com oitenta e quatro anos leu tudo isso, pensando que ele começou a ler com seis anos, numa média de cento e noventa e dois livros por ano, que dá pouco mais de dezesseis livros por mês, sendo que quando ele era criança não deveria ler tanto quanto hoje e eu vejo ele lendo mais de um livro por dia, quatro, cinco livros ao mesmo tempo, algo impressionante, que eu diria que o veinho sabe tudo. Vovô é professor, pós-doutor, emérito, poeta, filosofo entre outras coisas, mas se tem uma coisa que ele não entende nada, é cor. É daltônico. E foi nesse dia que o meu irmão no alto de seus cinco anos de pura esperteza, percebendo isso exclamou: Poxa vô, o que adianta estudar tanto se nem cor você sabe?
Até qualquer dia!
Eu volto
Vou buscar inspiração
Prometo que volto
Renovada, leve...Sem grilos!
Calma, não desespere!Vou ali...No alto da montanha
Pisar na grama
Dormir na rede
Vou de bicicleta
De asa-delta
Talvez andando
Eu sempre volto
Mas se acaso não voltar...Não vá se perder por aí!

PENHA

O colo mais gostoso / As broncas mais temidas / As conversas madrugada a dentro / O sorriso mais bonito / O gosto dolorido pela vida / O cheiro do pó compacto / As unhas sempre feitas / O cabelo sempre impecável / Vaidosa / Vacaína / Mulher do estalos/ Coração em forma de mundo / Vermelha / Alegria contagiante / Hiperativa.
Pimenta nos olhos dos outros / Felina, lambe a cria, mostra dentes e garras / Protetora / Maternal / Briguenta.
Os lápis apontados por ela / O dever de casa feito ao seu lado /O penteado pro balé / A competição de espirro / As laranjas em gominho.
Os ensinamentos / A coragem / As férias, viagens e bagunças, a fazenda e os sustos das minhas quedas.
Encarou a vida de frente.
Filha, irmã, amiga, mulher, mãe, avó, professora, psicóloga e só sentimento.
Quando os dois pedaços se foram, o coração se encheu de água. Uma família inteira sem chão, sem ar.Sem ela.
Fica bem aí. Deus em forma de mulher.
Eu descobri o quanto Deus é humano.
Te amo.
De algum lugar, para algum lugar.
Passou o tempo!Tempo que a minha casa era extensão da sua e que as portas e janelas permaneciam abertas pra você.Você entrava sem bater, comia da minha comida, deitava no colo dos meus. Lembra?Os colos eram seus, nossos.Era tudo tão festa.Gostávamos das coisas divididas.Você foi embora.Não é mais da família.Não, porque eu não quero.Agora precisa de cerimônia, de convite, não senta mais a mesa.Ganhou seriedade e perdeu a graça.Tudo que antes era espontâneo hoje precisa de tratado.E eu não sei fingir, não quero mais sambar com a cabeça.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sobre andar no escuro

O desapego é visto como um apagão. Mas espera. pupilas dilatam

Amor incondicional .

Hoje eu abri meu armário e dei de cara com a minha covardia, uma gaveta fechada, cheia de cartas interrompidas, com letras quase ilegíveis.Lembrei dos gritos de socorro do menino dos olhos azuis, de como aqueles gritos me faziam forte. Meu corpo magro, pequeno e ainda com dentes de leite, parecia para alguém o escudo perfeito, a fuga do inferno e eu de fato me tornava a tal.Lembrei da mão pesada, do corpo dolorido no chão, do choro desenfreado, da eterna espera no portão da escola e a constatação de que você não vinha., você nunca vinha. Lembrei então, que você vinha sim, vinha sempre que a mão pesava demais e chegava diferente, com presente e carinho, tratava das feridas que tinha feito e prometia ser melhor. Houve o dia em que você arrumou as malas para ir embora, naquele dia eu fiz de tudo para que sua mão me acertasse com força, pedi, implorei, só assim eu teria a certeza de que você voltaria. Mas você não voltou para a casa.Lembrei do medo instaurado nos olhos azuis do meu menino, no choro de horror, no cheiro estranho do seu cigarro estranho, das suas mudanças de humor, das perguntas que o menino de 5 anos fazia para a menina de 8: "Irmã ele é bom ou mal?", "A gente precisa mesmo vir?", "Por que você gosta dele?"... Ela gostava dele, ela amava, ama, nunca conseguiu odiar, talvez dai venha a dor. Ele incentivava seus sonhos, dava livros, como quem sabia que a realidade era um terreno pouco saboroso naquele momento, ele confirmava seus mitos e dizia que nada era impossível, ele colocava esperanças ali. Além do mais os tapas que vieram depois, mais velha, libertavam da culpa e aliviavam, a dor externa era melhor que a interna. A gente não precisava ir, mas a gente sempre ia. Te amo.

Meu eu em você

Eu prometi te amar pra sempre, eu sei.Quem disse que não amei?
Amor eterno dura sopros, é muito.
Fica o tempo do ontem, arde hoje, molha amanhã
Amores eternos são grandes demais para caberem em pessoas.
Transbordam espaços
Arrancam os laços
DescompassamDescompensam
Em pensar que meu peito em gritos, encontrou silêncio.
Ardeu de novo, queimou
Renasceu.
Fênix.
Mas quem disse que não te amei para sempre?
Quem foi que ousou tamanha mentira, meu amor?
Quantos grandes amores se há de ter?
Quantas infinitudes será capaz de suportar a efemeridade da vida?
Quantas vezes há de renascer, eu?
Você fica, mesmo que passe.
Não passa.
Te amei e foi pra sempre.
É.
Hoje eu abri meu armário e dei de cara com a minha covardia, uma gaveta fechada, cheia de cartas interrompidas, com letras quase ilegíveis.Lembrei dos gritos de socorro do menino dos olhos azuis, de como aqueles gritos me faziam forte. Meu corpo magro, pequeno e ainda com dentes de leite, parecia para alguém o escudo perfeito, a fuga do inferno e eu de fato me tornava a tal.Lembrei da mão pesada, do corpo dolorido no chão, do choro desenfreado, da eterna espera no portão da escola e a constatação de que você não vinha., você nunca vinha. Lembrei então, que você vinha sim, vinha sempre que a mão pesava demais e chegava diferente, com presente e carinho, tratava das feridas que tinha feito e prometia ser melhor. Houve o dia em que você arrumou as malas para ir embora, naquele dia eu fiz de tudo para que sua mão me acertasse com força, pedi, implorei, só assim eu teria a certeza de que você voltaria. Mas você não voltou para a casa.Lembrei do medo instaurado nos olhos azuis do meu menino, no choro de horror, no cheiro estranho do seu cigarro estranho, das suas mudanças de humor, das perguntas que o menino de 5 anos fazia para a menina de 8: "Irmã ele é bom ou mal?", "A gente precisa mesmo vir?", "Por que você gosta dele?"... Ela gostava dele, ela amava, ama, nunca conseguiu odiar, talvez dai venha a dor. Ele incentivava seus sonhos, dava livros, como quem sabia que a realidade era um terreno pouco saboroso naquele momento, ele confirmava seus mitos e dizia que nada era impossível, ele colocava esperanças ali. Além do mais os tapas que vieram depois, mais velha, libertavam da culpa e aliviavam, a dor externa era melhor que a interna. A gente não precisava ir, mas a gente sempre ia.
Nos seus olhostudo o que eu poderia ter amado.Nas minhas mãos (guardados)os dados viciados do nosso jogo.No coração o som sem voz da nossa breve histórias.E no serenar dos seres e das coisas(exatamente naquele átimo em que tudo é silêncio e expectação),ela (num esboço) arrombou a porta surda e saiu pela rua,sem piscar uma única lágrima...Eu ainda impedindo a sua passagem, segurando a chave, implorava um tapa.Ela fechou as janelas para os vizinhos não ouvirem.Eu senti vergonha do quase amor.Quase amores são sempre vergonhosos.Nunca mais ouvi aquela voz. Nunca na vida, ela me disse. Ouvi
Do outro lado sempre o mais leve. Vendo do alto, segurando na barra, com um belo sorriso no rosto. Embaixo vc. Joelhos arranhados, cravado na terra. descido na outra extremidade do inocente brinquedo. Se perguntando: o que carrega de tao pesado assim por dentro?
Quando caio em Fernando não há breu

o K do seu nome, vc sente fome?

Fecha os teus olhos e escuta a sua respiração (tão calma...) tudo inunda.Agora escuta (atenta) o lamento do vento nos vidros e respira fundo o frio todo que faz lá fora.Aproveita, vai aí dentro do teu peito amarelo e me procura naquele breve espaço escondido.E se você, por acaso, me encontrar,por favor, me arranca de lá...(um coração que, por medo, não sangra não pode nunca ser o meu lar)

João

Seria o avesso o lado de dentro exposto pra fora, ou o caos de fora revirado pra dentro? Ele só sabe que vai a tarde e vira poesia. Mania. Com avessos faz mágica, ele é abracadabra, pirata, um buscador. ele em verso, volta rouco. Sussurado. No desvão, o seu descuidar vira canção, me ascendendo vaga-lumes.
Se Maria e Carlos da Maia não se descobrissem irmãos, se a carta a Romeu lhe chegasse às mãos, se Orfeu não mirasse Eurídice, se eu cometesse menos tolices, o amor seria possível?Não. Até na arte se vê do amor apenas parte- indício, mais real que fictício,de que a plenitude é inconcebível.O que se busca, amiúde,é ignorar esta certeza implacável... Ver maise manter inabalável o sonhode viver, quando muito,um enfadonho romance de novelas- a chorar, entre elas,durante o intervalo maldito
Se não há para sempre, como crer no jamais?

amor , amor.

Deito de roupa para que acredite no meu sono fingido e não se achegue. Seu corpo não surpreende mais o meu, mistério resolvido por completo. Foi por medo ou por cansaço que fiquei todo esse tempo ao seu lado?Cuida sempre tanto de mim,dos meus desastres Que se agora eu te beijasse
Cometeria incesto, amor.

Abismo--eu.

moça olha bem no meu olho. vê? isso é um abismo. você não vai querer pular. vai?