terça-feira, 23 de outubro de 2012

Do Outubro pasado

E ai você acorda num domingo com uma sensação de vazio. Você que dividiu, na noite anterior, um espaço cheio de pessoas que você não tem a menor vontade de conhecer. E que talvez tenha beijado a boca de alguém que definitivamente não te faz sentir nada. Você que esta por ai frequentando ambientes que odeia, acreditando achar nesses lugares a única parte da sua vida que falta, um amor. Sim, você não o encontrou essa noite, e você dormi sozinho(ufa pelo menos isso) e acorda assim, abraçado ao travesseiro, com saudade de todas ás vezes que você abria os olhos mais cedo e se deparava com os sonhos da única pessoa que realmente faz sentido pra você.

Das belezas


A mim sempre interessou mais as pessoas que não possuem belezas escancaradas, aquelas belezas gritantes e óbvias. Gosto mais dos castanhos que pouco revelam, do que as águas azuis cristalinas. Gosto de belezas guardadas, em cantos que me instigam olhar, belezas miúdas que vou descobrindo enquanto passeio por lugares que vistos por olhos desatentos parecem comuns. Corriqueiros lugares belos, desses de inteligentes ares que se guardam em esconderijo para premiar exploradores.

Eu gosto de filme com finais felizes, eu acredito em finais felizes e talvez eu vá sempre insistir nas coisas, até que elas tenham um final feliz. E talvez acreditar em finais felizes seja coisa de criança, porque pra mim felicidade é vitória e só o adulto aceita perder.

Desconfio que o perdão, muitas vezes é desprezo.
A métrica e o fluxo
O encontro no acaso
O mistério de existir.
A ética da arte
A parte que nos cabe
No simples do sentir.
As razões para um desejo
O medo de outros medos
Impede o seu voar?
O canto do encanto
A trema vem do sexo
O sem nexo gozar
Eu troco meus trocados
Por mais um apanhado
De alma e devir
Essências rezam velas
Rizomas da espera
A parte a se mostrar
O tanto que é guardado
O provável extinguindo
O possível do viver
A regra é pura escolha?
A régua da escola
O domínio dos normais
Caretas pelas fotos
Gastamos só um modo
E o infinito a se exibir.
Eu sempre imaginei histórias e as vivi na minha cabeça. Quando estava em uma aula entediante viajava pela minha cabeça, criava mundos, provava gostos, vestia todos os tipos de roupas, fazia amigos. Não seria a imaginação o deus do homem? Hoje ando a escrever essas histórias, histórias que me roubam por vezes desse mundo que demorou a me dar lugar, outras que me contam melhor o que eu já vivi e outras que nascem para além do que entendo. Mas escrever dramaturgia é mais do que vivenciar sozinho, é dar vida nova ao mundo, é dar novo mundo a vida, é se sentir o próprio deus.

Quando você perde uma coisa que te é essencial e continua vivo, você percebe que a tal coisa não era essencial. Sabe?

A elegante valsa da minha vida, advém do fato de que tudo em "Eu" está entre aspas. Sou a terceira pessoa de mim.

Tão bom seria se eu pudesse ser a poesia que escrevo, pura e simplesmente a minha obra.

Sério gente interessada é muito interessante.
Eu brincava de desenhar seu sorriso
Na areia do parquinho
Você já estava lá, quando eu ainda nao te conhecia.
Em algum canto da minha fotografia
De infância
Em alguma esquina das ruas
Da minha cidade natal
Em alguma memória, que eu esqueci
Voce é real
So o que eu esqueço é real.
Por alguma razão, meus olhos não te perceberam
O que foi uma benção.
Melhor você so existir agora.
Eu era feia, magra demais,
Depois fiquei bonita, mas triste demais
Louca demais.
Hoje eu sou assim
Desse jeito que sabe ser quase feliz,
E que deseja o seu sorriso
Desenhado no seu rosto
O rosto mais bonito
De todos os rostos
Da minha cidade natal.
Hoje eu sou assim
Exatamente do meu tamanho
Com todos os meus pesados 57 quilos
Esses que eu jogo em cima do seu
Corpo-folha
Escrevendo alguma coisa
Com seu cheiro.
Enquanto você me olha
Feito criança
E me faz lembrar
de toda a infância
Que nós não dividimos

Da Tay ou da Ana

Eu, Ana, guardo desde os 14 anos, um monte de coisas numa caixinha rosa com desenhos de corações azuis claros, coisinhas tantas, que falam de mim mais do que qual quer um já soube. Escritos meus, escritos de amigos, medos, paixões, cacarecos, desenhos, silêncios, segredos. Guardei essas coisas lá na esperança de um dia mostrar para alguém, um amor, tinha de ser para um amor, e toda vez que chega u
m amor novo meu coração dá um pulinho e me pergunta: "É esse?". Nunca foi esse ainda. Eu então pensei que de repente poderia mostrar para alguém da minha família, mas ninguém lá em casa tem esse olhar romantiquinho para com a vida. Então ainda espero o esse chegar, a culpa é toda da caixinha. E nesse caminho, quase todo mundo conhece a Tay, mas a Ana, a Ana talvez ainda esteja na caixinha rosa de corações azuis clarinhos.

Eu construí uma rede de palavras com muito fôlego, dessas que podem ir longe. Joguei a rede no meu mar, estou esperando a rede descer ate bem la no fundo, quero trazer pra superfície o que escondo do mundo.

OPNIÃO


Acho uó quando falam fulano é do bem, fulano é do mal. Não seria mais honesto dizer "Fulano me faz bem" ou "Fulano me faz mal"

Dos pontos

Lembro de uma viagem, acho que para Porto Seguro, não tenho certeza, mas lembro de estar sentada num ônibus com Natasha Siviero e tia Neda, eu e Natasha(talvez ela nem lembre a gente edita a memória cada um de um jeito) inventavamos histórias ou músicas poéticas para ela e lembro que Natasha falou para mim depois que tia Neda disse que a minha história era bonita; Sua história é legal, mas não aca
ba nunca. Isso ganhou um significado plural na minha vida. Eu tive na vida escolar uma dificuldade enorme com pontuação e mais tarde essa dificuldade se alastrou para as minhas histórias todas. Elas se estendiam para além do que deviam e ficavam sempre com um ar de reticencias. Se tem uma coisa que eu acho que eu sinto que aprendi, olhando para esse azul de domingo, ao longo desses 23 anos, é que muitas vezes o (.) ponto final, não quer mais dois pontos de companhia e que saber acabar uma história, pode doer menos do que deixa-la em aberto.

Das coisas mesmas

Hoje eu levantei da cama e me vesti inteira de mim. Hoje eu andei pela rua que eu moro e a rua que eu moro parecia uma rua de outro país, hoje me senti estrangeira no que era minha zona de conforto. Tive fazendo um percurso habitual, a mesma deliciosa sensação de quando viajo para um lugar estranho a mim, meu olho pulsava de curiosidade e sem esforço algum se interessava por tudo que acontecia. Penso que talvez, até hoje, tenha morado nessa rua, mas que talvez há algum tempo ela tenha deixado de morar em mim e as mudanças sutis que ela sofrerá, tenham passado todas desapercebidas ou escondidas e hoje decidiram dançar na minha cara. Por quanto tempo podemos olhar para as mesmas coisas ?

Gemendo

A arte lateja, chupa, pulsa.
Ou você goza, ou você agoniza

Saindo da Livraria Travessa de Ipanema, vejo, do outro lado da rua, uma criança com menos de um ano, sentada na calçada.. Preso a sua mãozinha por um fio de naylon, um balão branco de gás descia e subia guiado por seus movimentos e a menininha ria sem parar assistindo ao balão que comandava. Enquanto sua mãe, visivelmente alterada, exalando cheiro de cola, pedia moedas aos carros que passavam. Ahhhh a poesia concreta é tão dissonante.

Das pausas

Eu ontem estava ouvindo uma música, ela era progressiva e de repente pausou, eu pensei que ela tivesse acabado e quase lamentei, mas ai ela voltou, e então parou novamente e dessa vez eu lamentei, mas ela voltou(era uma música muito boa, sabe?). As músicas ás vezes fazem isso, nos dão a impressão de que acabaram, quando na verdade ainda estão no meio, só que a certeza que temos é que todas elas acabam. E é isso, agora é o fim, amor e é o fim pra valer, não há mais sequer uma nota nessa canção, agora sim, podemos lamentar.

Contro-verso a Vinicius

Se me ama, amor
Não me ame baixinho
Precisamos com o grito do amor
Acordar os passarinhos
Esses dormem na dor
No desaconchego dos sem carinho
Vamos amor, 
Grita tudinho
Que o mundo assustado de amor
Ha de ser um mundo melhorzinho.

Sobre gavetas: nem tudo que está guardado, está escondido, ou seguro.

Das vistas

Cheguei em Ipanema
Sentei-me a beira mar
Vi pela primeira vez na vida
O Che Guevara surfar.
Na PUC tem muito comunista,
De barba e óculos sem grau
Tem até galã neo-nazista
Tentando ser contra capital.
Eu quero saber as coisas, não entende-las, mas ser invadida por elas. Eu quero ser devorada pelas histórias, das gentes todas que eu não conheci, quero ser misturada, feito solução d'água a todas as vidas que eu ignoro. Quero ter um ouvido poderoso, desses que sentem o cheiro de cansaços estranhos, eu quero voar no que é do humano. Eu não quero passar impune, quero ter o meu nome manchado pela lama dos corpos da rua, quero deitar por cansaço. Eu quero transbordar de mim, por nós, em nós. Eu quero dançar com o corpo do mundo! Eu quero rir e berrar, eu quero gente junto.

Um país no interior


Viagem maior é quando você atravessa as fronteiras do interior e descobre um seu novo país.

Dos medos

Quando a loucura jorra,
No chão do coração
O mal assola o sol
O soro vira veneno
No sertão, dos que tem medo
Dos que tem medo.
Você tem medo?

Enquanto ocê caminha
Menos tempo você tem pra chegar
Parado também, não adianta
Ela vem tem buscar.
A estrada é uma espingarda
Qual quer hora a morte
Te acerta na cara.

No seu rosto já se pode ver
As linhas do tempo
Que marcam sua pele
Sem você deixar.
Nos passos a diante,
Há um certo cansaço
Seu corpo agora é
A casa da dor.

Os planos de menino
Ardem no peito
E o passado
Como um velho malvado
Te puxa o braço.
Você tem medo? Você tem medo?

VOcê acorda sozinho na noite
Mas o escuro é vocÊ
E não há luz que te faça
Rejuvenescer.

Dos filhos e falos

Esboço.

Você tem cheiro de semente de priprioca, um perfume da Natura, você me contou. Os olhos negros e os braços firmes capazes de me ninar, crescido que sou. Eu ando fraco, dos braços, do peito, da cabeça, eu ando mal da cabeça. o médico falou, mas vai passar diz ele, eu não estou ficando louco, eu não posso enlouquecer, eu não tenho estrutura emocional para pirar. Você me dá banho, esfrega mi
nha costas e me prepara o jantar, a noite você canta para eu dormir. Me lembro da última vez que te comi, você gozou duas vezes. Eu chupava você e você goza um rio, eu lambia seu gozo como fosse comida, como fosse liquido aminiótico, eu cheirava você como se eu te pertencesse, como se dentro de você fosse o lugar seguro para onde eu precisava voltar para me curar do mundo. Depois eu enfiei meu pau com força, fundo, enfiei meu pau desejando que a minha glandê se tornasse uma membrana e envolvesse nela todo meu corpo e que assim como o meu pau, eu inteiro entrasse dentro de você. Dentro de você agora parece o lugar de onde surgi e que obrigado fui posto pra fora. Queria meu pau amputado para que o sexo não fosse a ligação. Imagino você, minha mulher, adornando meus cabelos com fitas e laços, me ensinando a passar o batom, me protegendo dos perigos do mundo. Oh céus, como me pesa o falo! Como me falta o poder ser dor sem vergonha, o poder amar sem orgulho. Oh céus, como me pesa o falo. Eu queria pedir que você o arrancasse de mim. E junto com o seu segundo gozo eu vou ao banheiro e vomito esse incesto. Sim minha mulher, você é a mãe que não tive e agora que voltei para dentro do seu útero, já me permito ser sua menina e não é mais vergonha que me esfregue as costas.

Das paralisias motoras

É inverno na minha inspiração. A ansiedade contaminou tudo com a sua paralisante batida, tum tum tum, é o cavalo do meu peito em disparada. Faz de mim uma ofegante descansada, enquanto brinca de agonizar minha ideias e me atormenta pondo a luz o que escondo. Essa intrusa destrambelhada, que me faz bater com a cara no poste, antes mesmo de andar pela calçada. Mal amada embaralha a minha língua essa mesma que me era pátria amada, e me assusta quando ensaio meu discurso e percebo que até mesmo fiquei gaga.

Do espaços no tempo

Ela não tem ponteiros, nem agenda, e eu tenho tantos planos. Não sei se vai dar tempo, não sei se vai dar mundo pra existir fora o que crio dentro. Não é fácil me traçar contorno, se não fico muito atento, tudo me invade. Ela da passos em direção ao norte, eu nunca soube usar bússola, mal consigo achar o carro no estacionamento do shopping. Ela tem altura pra cima, eu sou um poço sem fundo, ela sa
be flutuar e exibe seu voo sem esforço, num mundo sem gravidade, de menino meu sonho era esse, mas de agora me assusta o ar. Foi-se o tempo da terra do nunca, mas continuo menino perdido, só que agora carrego voz grossa numa roucura que chega a espantar. Quando foi que deixei de dar pé? Ontem abrindo a janela, pensei em rasgar meu papel, o lotado de horários na agenda e jogar tudo aquilo no mar, eu não fiz, mas queimei-a inteira. Penso agora que talvez eu de tempo se eu nunca me olhar no relógio, pois tal sorte não tive, nasci com ponteiros.

Das estrturas

Não sei se foi escolha, não tenho certeza se foi, ou se estrutura imposta, mas vendo daqui, de dentro, me parece bonito isto. Chamo isto esta coisa de transbordamento, este corpo consumido pelo que quer que seja. Gosto de poder de vez em quando abandonar a razão , mesmo que depois me venha o medo da loucura, essa que nunca de fato cheguei a tocar com as mãos, mas que de vez em quando desfila com o
 seu carrinho de compras a poucos centímetros dos meus olhos. A vida é curta, mas da tempo de ser triste, há qual quer felicidade na tristeza, sim, o choro que lambe a alma pra desaguar no alivio. A vida é curta, mas da tempo de ser feliz, e há qualquer tristeza nisso. Da tempo para ter pressa de amar, não é feio dançar sem saber, não é feio precisar do colo. Os frágeis sempre me interessaram mais. Como são fortes aqueles que tem coragem de assumir suas fragilidades em um mundo tão rápido. A vida é curta, mas dá tempo de ser humano, a vida é curta mas há tempo pra ser-humano. -

Dos mares o maior

Num escrito antigo (eu devia ter uns 13 anos) encontro o seguinte:
Nos olhos azuis minha mãe carrega a paixão de meu pai que é o mar, mas essa cor de olho ela não quis me dar. O olho de minha mãe é de aguá cristalina da pra ver o fundo, da até pra nadar. O meu olho no entanto é mundo, é um rio de me afogar, carrega um pouco de tudo, mal dá pra você encarar, por isso é um tanto escuro, Deus quis me disfarçar.

Eu estou aqui

Em tempos como este é difícil quem fique, quando fica difícil. Sim nós somos os donos de nossas dores, de nossas alegrias e somos os únicos responsáveis por elas, mas como ficamos mais potentes quando sabemos que tem alguém de mãos dadas com a gente. ás vezes nos sentimos impotentes perante a coisas que acontecem com quem amamos, mas estar ao lado dessas pessoas, dar a mão e ir junto, já é coisa pra caramba e em tempos como esse é quase um milagre. Amar é um grande eu estou aqui e para aqueles que amo é o que quero gritar. Dar a mão não pesa, ouvir não me cansa, dar o colo é dadiva, contribuir para que uma dor doa menos me faz feliz, EU ESTOU AQUI,

A menina sem bordas e o garoto palavras: Diário 2


Para o meu amigo que "pirou".
Ei cara, acorda, vamos trocar uma ideia. Eu sei que você tá cansado, eu sei que esses rémedios te fazem dormir quase o tempo todo, mas eu sinto sua falta, cara, eu quero ir com você nessa, posso te dar a mão? Se lembra quando ainda eramos duas crianças bonitas e esquisitas, correndo descalças pelo play do prédio? Seu amigo imaginário fazia companhia para o meu enquant
o a gente construia alguma realidade possivel de se habitar. Nesse tempo você era o mais inteligente da turma e quando esse tempo virou você foi o primeiro colocado da galera no vestibular. Agora eu olho pra você cara, e você continua sendo o mais bonito da turma, mas a turma não existe mais. Por alguma razão foram todos embora e agora você sozinho no seu quarto decidiu convidar os amigos imaginários todos para te fazer companhia, foi? Agora que a turma toda foi embora e eu também não estava lá, você não conseguiu dar conta de habitar a realidade sozinho e com toda a inteligência que você sempre teve, resolveu contruir um outro mundo não é? Eu to aqui cara, eu to aqui e quero entrar no seu mundo e lutar com você contra os inimigos imaginários assustadores. Eu quero ser seu Sancho Pança brother. Você sempre foi sensivel e bom coração demais para abandonar os amigos imaginários e agora, as pessoas duras olham pra você com medo. Mas eu não, irmão, como te prometi aquele dia na escada,eu to com você até o fim. Vim aqui te pedir perdão por não ter estado do seu lado quando o castelo desmoronou, mas agora estou aqui, sentada no pé da sua cama, olhando pra você que dorme e tentando, e tentando.... Me deixa entrar?

A menina sem borda e o garoto palavras. Diário

Me lembro do dia em que espalhei a noticia de que iria voar, todas as outras crianças, que já não tinham tanta vocação para o incrível, riram de mim, você não, você voou comigo. Quando eu contei para os meninos do prédio o medo que eu tinha de entrar na escada, porque no 9º andar, se escondia vez ou outra o Capitão Gancho, os meninos maiores me prenderam no 10º andar, e seguraram a porta. Eu chore
i sem parar, a única forma de sair, seria descer no escuro até o 9º andar e isso eu não poderia. Mas você entrou pelo 9º andar e matou o capitão Gancho e eu pude descer e nunca mais ter medo dele. Eu e você eramos as crianças mais crianças do mundo. Eu te achava lindo, ma por alguma razão não nos apaixonamos, não, esse sentimento era pouco pra gente. Contrariando a tudo, descobrimos que eramos sim almas gêmeas, mas como tudo nosso, almas gêmeas diferentes das do resto do mundo. Você era o de meu melhor ouvinte, eu era sua melhor interlocutora de você. Nenhuma dor durava muito no nosso abraço, eramos o antidoto dos sonhos, nesse mundo de venenos e gravidade. Você era um ano mais velho que eu, então não dividíamos a classe, mas combinamos o seguinte: Sempre que alguma coisa estiver doendo, fora do lugar, ou muito boa que precise urgente de ser contada, nos encontraremos na biblioteca. Combinamos de passar lá duas vezes por dia, para checar se o outro estava por lá, e lá fazíamos nossas confissões e aventuras. No dia que o seu mundo desabou, você me esperou na biblioteca. Mas as nossas escolas agora eram distantes demais para visitas diárias, a sua em um estado, a minha em outro. Você não me ligou para dizer o tamanho do rombo, eu iria correndo te encontrar, mas somos esquisitos demais para usar o telefone. Você me esperou durante uma semana na biblioteca da sua faculdade e eu não cheguei. Eles tiveram que te tirar a força, você não comeu quase nada, você não dormiu, então eles tiveram que e tirar a força, numa camisa de força? Eles queriam, amigo, do jeito meio torto e bruto deles que são os homens da realidade, queriam te dizer poesia, queria dessa forma feia, te fazer aprender a se abraçar sozinho. Eles não entendem nada do tipo de gente que como a gente, vive tão intensamente agora que ás vezes chega atrasado no segundo seguinte. Eles não entendem o fato de que você é bom demais para abandonar os amigos imaginários, esses que carregou durante toda a infância, eles não entendem que você é sensível demais para jogar fora o boneco de lata que construímos juntos. Eu entro em seu quarto e você dorme. Eu te espero. Você acorda e com seus olhos verdes e lindos, olha pra mim com uma tristeza tão aguda que chega a molhar a parte mais sorriso de mim. Você me olhou bravo e pediu para eu ir embora. Eu disse que não podia ir. Você me olhou, atravessando minha alma e disse que não acreditava mais, que eu tinha prometido que ia te ajudar e que eu te esqueci e fui embora. Você me disse que todo mundo foi embora, que a turma não existe mais e que assim como ela, você também não existe, que você também foi embora de você e que nunca, nunca mais vai poder voltar. Você me disse que tudo aquilo que conhecíamos, não existia mais e que seu mundo foi dominado por monstros e inimigos terriveis, que te perseguem e te falam coisas horrendas.Eu chorei e te agradeci pelo dia que você matou o Capitão Gancho pra mim. E pedi desculpas por não ter estado no parquinho no dia que o nosso castelo desmoronou e que eu sentia muito. Você me disse que não sentia mais. Eu pedi desculpas por não ter ido a biblioteca te salvar e perguntei se você me deixava entrar e lutar com você contra esses monstros de vozes terríveis. Você me disse que eu não poderia ouvi-los, nem vê-los, que ninguém mais podia, ou acreditava. Eu disse que eu sim. Você me disse por fim: "Não dá, você está magra demais, velha demais. Eu tenho vergonha. Por favor, sai daqui". E carregando o baldinho e a pázinha eu sai, arrastando-me.

Meu nome manchado


A atriz e a autora. Uma hora me proponho folha, na outra caneta. Mas o que quero sempre é me borrar com as histórias que invento e com as que dou corpo. Eu não quero sair impune desta vida, quero ter o meu nome "manchado".

Das miudices

Eu não sou uma intelectual como alguns pensam. A verdade é que eu continuo a criança boba e hiper imaginativa, apaixonada por histórias que sempre fui. Acontece que eu sou uma jovem-adulta, petulante o suficiente para não ter vergonha de sonhar, de chorar, de rir das coisas bobas, de gastar o tempo admirando o comum, de ter medo de inexistências, de me contagiar com sentimentos alheios, de acredit
ar em seres que voam, de confiar em gente. A verdade é que eu não sou nada madura e que eu sofro feito uma criança e me alegro com a intensidade de quando ainda aprendia contas.Eu não tenho a menor ideia de como resolver as coisas, eu não tenho nenhuma grande ideia de como mudar o mundo, mas eu tenho muita vontade de fazer as pessoas rirem, a mesma vontade que tinha quando fazia palhaçadas para os meus amiguinhos, foi só a "palhaçada" que mudou. Eles, os grandes, diziam que com o tempo eu ia aprender a sofrer menos, a sonhar menos, a falar mais de coisas reais, me afetar menos com os outros, eles diziam que eu ia CRESCER, eles diziam isso com muita certeza, mas comigo, isso não aconteceu. E confesso que tenho um pensamento meio bobo de que talvez continuar pequeno, seja a maior forma de crescer.

Das promessas

Lá em casa me celebraram para promessa. É que desde na escola me colocaram para estudar com os meninos grandes e me caluniavam, dizendo que eu tinha propensão pra gênia. Quando na verdade eu era só uma menina brincando de inventar palavra, uma menina que por preguiça de entender as regras dos outros, preferiu criar sua língua. Desde que nasci, eu tive problema pra fala

Das bordas e seus bordados


ATO II

Pedi pra minha avó que me ensinasse bordado, queria ''construir'' um pano, capaz de limpar o tempo e assim talvez eu pudesse escolher as tintas de um céu. Se fosse de novo, no novo eu te escolhia pra amiga desde o início, e patriava nossas línguas no país das palavras. Mas minha avó disse que talento para bordadeira eu não tenho. Deve de ser que quando eu nasci, me esfregaram na cara um sonho, que borrado de mim me deixou ruim das bordas. Sabe, que eu nasci meio desengonçada e foi difícil aprender a me dançar, meu corpo espaçoso esbarrava no corpo do mundo, dai, eu aprendi a não me mover . mas tinha vez que a dança explodia e ai era uma derrubação só de tudo que é coisa. De agora to quase aprendida a dançar do tamanho do espaço. Desculpa por ter caído em você. Sabe, que vendo seu olho transbordante eu vejo um tanto de mim porvir, que quase tenho vergonha de já ter sido antes de ser. Por todo o estrago que a minha inabilidade de abraço causou e por toda a força da minha abertura de colo, quero fundar com você uma não-instituição do tamanho do seu sorriso.

domingo, 21 de outubro de 2012

Livia é o seu nome


Hoje pela primeira vez eu consegui entender que seu nome é seu, eu consegui degustar na minha boca a sonoridade que tem seu nome e atribuir a ele seu rosto. Peguei imediatamente o meu celular, abri os meus contatos e troquei "Amor" por "Livia", como se te libertasse da instituição fundada por mim e te desse a liberdade de existir enquanto outra. Eu tenho dificuldade com os outros, sempre tive, estar em mim e dar conta da minha falta já é demais cansativo para eu me permitir  conhecer o que Sartre chamou de inferno. Estamos agora próximas aos 4 meses de namoro, tempo esse que para a maioria é quase nada, mas que pra mim era o suficiente para conhecer as profundezas de minha "amante" a quem costumeiramente apelidava com qual quer coisa que me permitisse ignorar seu nome, e agora me dou conta, a apelidava com qual quer coisa que me permitisse ignora-lá que a tornasse coisa e coisa essa moldável, uma peça perdida do meu quebra-cabeça, cuja a existência estava designada a ser apenas a parte externa de mim que faltava. Eu criava as minhas mulheres de maneira a invalida-las e assim me enganava e as enganava numa junção fundida. Eu não fundi com você. E isso me bate o peito. como uma mare furiosa de angústia e medo, você joga na minha cara, através de seus silêncios de nome-próprio, toda a humanidade que eu nunca conheci e não dança comigo enquanto eu me dou conta de que eu, que sempre me achei profunda conhecedora da alma humana, nunca passei das fronteiras de mim, essas que de fato não existem. Me dou conta de que nunca passei das inexistências. E agora, pela primeira vez você tem nome e eu não faço a menor ideia de quem você é. Olho profundamente para os seus olhos e não me vejo, talvez essa seja a única certeza que tenho, você não sou eu e isso me faz ter que entrar em contato com a questão mais assustadora da minha existência: A MINHA EXISTÊNCIA.

domingo, 14 de outubro de 2012

Eu sou, veja bem, meu quase amor (confesso), uma criança coberta de ferrugem, brincando no meio do terrível, uma criança sonhando que alguém, seja capaz de borrar meus contornos vazios. E eu pensei, veja só que audácia, que de repente você poderia se atirar no meio dessas ondas escuras e me trazer do tempo um barquinho de papel, única travessia a mim possível. Eu pensei que talvez você pudesse remar comigo esse barco de papel, enquanto as folhas desmancham na água e a gente, junto, vira mar.