quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Entendo a decisão da escolha por uma outra, que esmaga completamente a sua possibilidade de ser, quando tem ouvidos surdos para o que não é ela.
Entendo o conforto de estar com alguém que é tão ensimesmado que mal enxerga a voz baixa e que só aos berros é capaz de fazer menção a audição.
Entendo a decisão de escolher alguém que te aprisiona dentro dos limites do que você não quer, e escolhe pra você toda uma vida, dentro de um curral. Entendo que viver no campo, livre de paredes é muito mais assustador.
Entendo que agarrar nas mãos a responsabilidade da própria vida, a possibilidade de ser poderosa, é mais amedrontador do que viver sob a custódia de uma algoz em descontrole.
E por essa escolha, tão humana, e tão covarde eu entendo que te amo, mas que jamais poderia te ter comigo. Eu sou aquela que se joga no abismo, se arrebenta inteira, mas guarda o gostoso da sensação da queda e acredita piamente que o salto é o voo. Quando sentir minha falta, olha pra cima, eu to brilhando lá no céu. No meu lugar que é inalcançável para quem tem medo de pular o muro

terça-feira, 30 de agosto de 2011

"E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá,
louco e longo e não o outro,
encurtoso."

(Guimarães Rosa, fita verde no cabelo)
(nova velha história)
=.
E nada do que escrevo da conta de domesticar o meu silêncio.
Sem cheiro, se cor, sem peso
O jeito que o vazio encontrou
De se tornar cheio.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sarah Kane

A Don't say no to me, you can't say no to me because it's such a relief to have love again and to lie in a bed and be held and touched and kissed and adored and your heart will leap when you hear my voice and see my smile and feel my breath on your neck and your heart will race when I want to see you and I will lie to you from day one and use you and screw you and break your heart because you broke mine first.
Sarah Kane

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sou contra a pena de lixo. Sou a favor da reciclagem. Todo mundo merece outra chance

domingo, 21 de agosto de 2011

Achado!

Meu pai esteve aqui no Rio e me entregou provas minhas antigas que gurdava com ele "só emprestadas" frisou, "levo de volta comigo". Lendo elas encontrei um recadinho no canto da minha prova de português: "Cansei de tentar corrigir sua gramática, você tem muitos erros ortográficos. Mas interessante, eles parecem deixar nossa língua ainda mais bonita. Te concedo hoje em minhas provas; uma licença póetica, assim não vou sofrer de culpa, quando na minha velhice, lembrar que dei menos que o máximo, para uma grande poetisa que nasce diante dos meus olhos. Não colocarei regras em sua precoce genialidade. Mas tenha cuidado"
Sim é completamente anti-ético, mas foi a coisa mais bonita que já me escreveram até hoje. Os meus 14 anos guardam para sempre você Dodôra.

aham

E eu quando nasci percebi que tinha olhos de narrador, olhos de quem enxerga a vida no ponto de conta-la, como quem não muito participa, mas tem o poder de direção da história. Depois eu descobri que eu era aquele narrador maluco, aquele que esquece a fala no meio da peça porque se apaixona pela mocinha e quer virar personagem. E vira personagem, mas um personagem que entra em crise no meio da peça, esquece a fala, e perde a mocinha pra um que sabe mais sobre isso, de ser um personagem.
Personagens são um só, e eu era no minimo dois aguardando por todo o resto.

Esta é só a minha vida

Prologo introdutório

Esta peça é apenas uma ode a minha vida. Tem como intuito revelar o meu íntimo, as minhas piores ações, o meu desequilibro, a minha catatonia, a minha maldade.
Mas eu não quero chocar vocês, não eu quero que vocês me compreendam e quiça se vejam em mim. Sim eu quero convidar vocês a mergulhar no abismo humano, que é o meu abismo e o de vocês também, pois nos incluímos nessa raça. Mas para isso, para que vocês venham comigo, para que vocês não se choquem com o meu intimo, para que vocês topem pegar em minha mão e se jogar no precipício comigo-eu dúvido que alguém toparia se jogar no precipicio, talvez não seja um bom argumento este- eu preciso fazer com que vocês gostem de mim, eu preciso fazer com que vocês tenham vontade de me por no colo, eu preciso que vocês me achem uma menina fofa, eu preciso que vocês se sintam meus pais, não meus irmãos, mas meu pais.

Nessa hora uma mulher sobe em cima da corda bamba e se equilibra nela. Essa mulher poderia ser eu. Nessa hora eu volto a ser criança. Eu estou com os meus primos no apartamento do meu avô. Um apartamento antigo, todo de madeira, com um cheiro de cigarro e polvilho anti-séptico. Eu e meus primos corremos e rimos, por qual quer uma dessas razões que fazem crianças correrem. E a gente faz muito barulho. E de repente, com passos de tempo dilatado, com pantufas arrasntando lentamente e uma cara de desagrado, meu avô, trajando cabelos brancos, atravessa o corredor, meio que dixavadamente, ele fica nos observando, esperando o momento que sumiriamos dentro de algum outro comodo do enorme apartamento. Eu fingo que sumo e quando ele se distrai, me escondo no armário, eu sabia o que meu avô pretendia, ele ia entrar dentro do quarto proibido e ficar ali por horas, fazendo qual quer coisa que eu não podia saber, mas imaginava. Fiquei dentro do armário e vi quando ele pegou a chave dentro de um vaso de flores ao lado da porta, ele pegou a chave abriu a porta e se trancou lá dentro. Eu esperei, resisti bravamente ao impulso de correr e gritar com as outras crianças. Esperei por um tempo que naquele momento parecia maior que a minha vida, parecia maior que a vida do mundo inteiro. Contei meus dedos por mais de um milhão de vezes, e eu nem sabia contar até um milhão(talvez ainda não saiba), quando finalmente a porta se abriu. Ele olhou para todos os lados, procurando assegurar-se de que não havia nenhum de nois por ali, nenhum de seus inimigos barulhentos e atormentados. Quando finalmente teve certeza de que o campo estava livre, colocou a chave de volta no vaso. Eu esperei ele sumir do meu canto-greta de visão e sai de dentro do armário, com passos leves e uma adrenalina nunca antes experimentada. Eu empurrei as flores de plástico para o lado, com toda a minha delicadeza de 06 anos e surrupiei a chave. Neste momento de coração acelerado abri a porta com uma habilidade inenarrável. Abri e fechei na mesma velocidade, me trancando agora do lado de dentro, no território dos que andam de pantufas e não gostam muito dos gritos sem razão, abri e vi um quarto enorme, inteiro de livros, do chão ao teto, com uma escada que de rodinhas de permitia seres pequenos como eu, alcançar até o último deles.

(Continua)

sábado, 20 de agosto de 2011

" Pois não existe nada que tenha sido alguma vez escrito, ou pintado, esculpido, modelado, construído, inventado, a não ser para sair do inferno." (Artaud, 1947)
Meu destino, traçado por uma lei desconhecida pelos deuses,
Meu destino, calçado por dedos festivos
Por mentes difusas
Meu eu rizomático
De personagens que revelam o que eu não posso
Ainda!
A boa moça que para viver em paz
Precisa assassinar a vilã
E com isso cometer suicídio
E assim deixar de ser
O que de fato nunca foi
Ela que você pode odiar
Ou amar,
Mas que você não ignora
Que você não compreende
Mas que você não ignora.
me desculpa a megalomania
é preciso ser genial
Para conseguir me ver
E para ser genial
é preciso admitir a própria maldade
E para ser genial
É preciso permitir todos os seus eus
Mesmo os que não são

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

“o herói é motivado por uma virtual conflitualidade - com os outros, com a sociedade, consigo mesmo – directamente condicionada pela radicalidade com que assume determinados valores românticos” Dessa forma, este personagem retrata sentimentos de solidão, tristeza, desilusão que, quando ligados a conflitos amorosos tendem a resultar em situações de grande tragicidade tal qual suicídios, exílios, etc.
Podemos perceber, portanto, que aquilo que afirmamos ser o típico “herói romântico” corresponde à descrição de que é possível afirmar que o “herói romântico” nada mais é do que o “mártir do amor”,

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Passarim
Diz o porquê de ser assim
De acreditar no amor, dá-lo a mim
E depois levantar vôo
Sozinho
Arredio
Pra me deixar no meio-fio
Frio
Pra correr longo e amplo
Rio
E desembocar n’outro mar
Dar para outros seu cantar.
Não sei pra quê esses olhinhos
De quem é doido por carinho
De pedir atenção, conversa boa
Se daqui a pouco você entoa
Uma notinha já manjada
E voa
Rouba a beleza do meu dia
Vai cantar em outra freguesia.
Ah, passarim, ai de mim
Eu, que vivo dizendo sim
A esse amor mudo
Amor-minuto
Que nem sei se ainda existe
Se já virou modinha triste
Já faz tempo...
Virei chiste?
Virei gaiola, arapuca?
Que idéia é essa, que machuca?
Eu, que queria ser céu
Nuvem, sol, flor, açúcar
Queria dia de cachoeira
Queria perder eira e beira.
Mas tá certo, passarim
Você bebe, come, arrulha
Cata um galho de alecrim
Canta um cheiro de jasmim
Bate as asas
E fim.

Ass: Mi Paixão
porque você é esse transbordamento
de coragem, de amor
essa aragem, prenúncio
esse clamor
de vontades abertas
ofertas
liquidação de coisas boas
dessas que a gente acha e não acredita
remexe araras, prateleiras,
pronto: precisa.
peço pra embrulhar esses olhos claros
esse desejo perene de alturas
nossas tantas reconhecências
levo tudo na concha das mãos.

(loas, então
às intempéries, aos planetas
aos cometas, às mulheres
loas a essa ou aquela canção.
loas às colheres, de chá ou sopa
loas às roupas, à poeira, às janelas
a tudo mais que entortou nossas paralelas
e nos abençoou nessa interseção)

ASS: PAIXÃO
Desenhei seu rosto no meu poema,
As formigas ociosas carregam meus sonhos
Pra dentro da terra.
Onde devoram, devagarzinho, todos eles
Um-a-um
Onde guardam um pouco
Para a temporada de inverno.
O poema é sonho
As formigas me carregaram
Os sonhos.


domingo, 14 de agosto de 2011

choveu saudade
Meu coração ainda fresco
Ficou borrado
No vermelho da folha corpo
A palavra não escrita
Se equilibra
Nas pautas das artérias

sábado, 13 de agosto de 2011

Allen Ginsberg

O Uivo
Para Carl Solomon
I

Eu vi os expoentes da minha geração, destruídos pela
loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo
contato celestial com o dínamo estrelado da
maquinaria da noite,
que pobres esfarrapados e olheiras fundas, viajaram
fumando sentados na sobrenatural escuridão dos
miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando
sobre os tetos das cidades contemplando o jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado
e viram anjos maometanos cambaleando iluminados
nos telhados das casas de cômodos,
que passaram por universidades com olhos frios e
radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz
de Blake entre os estudiosos da guerra,
que foram expulsos das universidades por serem loucos
& publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes de pintura
descascada em roupa de baixo queimando seu
dinheiro em cestos de papel escutando o Terror
através da parede,
que foram detidos em suas barbas púbicas voltando
por Laredo com um cinturão de marihuana para
Nova Iorque,
que comeram fogo em hotéis mal pintados ou
beberam terebentina em Paradise Alley, morreram ou
flagelaram seus torsos noite após noite com
som, sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília,
álcool e caralhos em intermináveis orgias,
incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem trêmula,
e clarão na mente pulando nos postes dos pólos de
Canadá & Paterson, iluminando completamente o
mundo imóvel do Tempo intermediário,
solidez de Peiote dos corredores, aurora de fundo de
quintal das verdes árvores do cemitério, porre de vinho
nos telhados, fachadas de lojas de subúrbio
na luz cintilante de neon do tráfego na
corrida de cabeça feita do prazer, vibrações de
sol e lua e árvore no tronco de crepúsculo de
inverno de Brooklyn, declamações entre latas
de lixo e a suave soberana luz da mente,
que se acorrentaram aos vagões do metrô para o
infindável percurso do Battery ao sagrado Bronx
de benzedrina até que o barulho das rodas e
crianças os trouxesse de volta, trêmulos, a boca
arrebentada o despovoado deserto do cérebro
esvaziado de qualquer brilho na lúgubre luz do Zoológico,
que afundaram a noite toda na luz submarina
de Bickford´s, voltaram à tona e passaram a tarde
de cerveja choca no desolado Fuggazi´s escutando
o matraquear da catástrofe na vitrola
automática de hidrogênio,
que falaram setenta e duas horas sem parar do
parque ao apê ao bar ao Hospital Bellevue ao
Museu à Ponte do Brooklyn,
batalhão perdido de debatedores platônicos saltando
dos gradis das escadas de emergência dos parapeitos
das janelas do Empire State da Lua,
tagarelando, berrando, vomitando, sussurrando fatos
e lembranças e anedotas e viagens visuais e choques
nos hospitais e prisões e guerras,
intelectos inteiros regurgitados em recordação total
com os olhos brilhando por sete dias e noites,
carne para a sinagoga jogada à rua,
que desapareceram no Zen de Nova Jersey de
lugar algum deixando um rastro de postais ambíguos
do Centro Cívico de Atlantic City,
sofrendo suores orientais, pulverizações tangerianas
de ossos e enxaquecas da China por causa da
falta da droga no quarto pobremente mobiliado de Newark,
que deram voltas e voltas à meia noite no pátio da
ferrovia perguntando-se aonde ir e foram, sem
deixar corações partidos,
que acenderam cigarros em vagões de carga, vagões
de carga, vagões de carga, que rumavam ruidosamente
pela neve até solitárias fazendas dentro da noite do avô,
que estudaram Plotino, Poe, São João da Cruz, telepatia
e bop-cabala pois o Cosmos instintivamente
vibrava a seus pés em Kansas,
que passaram solitários pelas ruas de Idaho procurando
anjos índios e visionários que eram anjos índios e visionários
que só acharam que estavam loucos quando Baltimore
apareceu em estase sobrenatural,
que pularam em limusines com o chinês de Oklahoma
no impulso da chuva de inverno na luz das ruas
da cidade pequena à meia-noite,
que vaguearam famintos e sós por Huston procurando
jazz ou sexo ou rango e seguiram o espanhol
brilhante para conversar sobre a América e a Eternidade,
inútil tarefa, e assim embarcaram
num navio para a África,
que desapareceram nos vulcões do México
nada deixando além da sombra das suas calças
rancheiras e a lava e a cinza da poesia espalhadas
pela lareira Chicago,
que reapareceram na Costa Oeste investigando o FBI
de barba e bermudas com grandes olhos pacifistas
e sensuais nas suas peles morenas, distribuindo
folhetos ininteligíveis,
que apagaram cigarros acesos nos seus braços
protestando contra o nevoeiro narcótico de
tabaco do Capitalismo,
que distribuiram panfletos supercomunistas em Union
Square, chorando e despindo-se enquanto as
Sirenes de Los Alamos os afugentavam gemendo
mais alto que eles e gemiam pela Wall Street e
também gemia a balsa de Staten Island
que caíram em prantos em brancos ginásios desportivos,
nus e trêmulos diante da maquinaria de outros esqueletos,
que morderam policiais no pescoço e berraram de
prazer nos carros de presos por não terem cometido
outro crime a não ser sua transação pederástica e tóxica,
que uivaram de joelhos no metrô e foram arrancados do
telhado sacudindo genitais e manuscritos,
que se deixaram foder no rabo por motociclistas
santificados e berraram de prazer,
que enrabaram e foram enrabados por esses serafins
humanos, os marinheiros, carícias de amor
atlântico e caribeano,
que transaram pela manhã e ao cair da tarde em
roseirais, na grama de jardins públicos e cemitérios,
espalhando livremente seu sêmen para
quem quisesse vir,
que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar
mas acabaram choramingando atrás de um tabique
de banho turco onde o anjo loiro e nu veio
trespassá-los com sua espada,
que perderam seus garotos amados para as três
megeras do destino, a megera caolha do dólar heterossexual, megera caolha que pisca de
dentro do ventre e a megera caolha que só sabe
sentar sobre sua bunda retalhando os dourados
fios intelectuais do tear do artesão,
que copularam em êxtase insaciável com um garrafa
de cerveja, uma namorada, um maço de cigarros, uma
vela, e caíram na cama e continuaram
pelo assoalho e pelo corredor e terminaram
desmaiando contra a parede com uma visão da
boceta final e acabaram sufocando o derradeiro lampejo da
consciência,
que adoçaram as trepadas de um milhão de garotas
trêmulas ao anoitecer, acordaram de olhos vermelhos
no dia seguinte mesmo assim prontos
para adoçar trepadas na aurora, bundas luminosas
nos celeiros e nus no lago,
que foram transar em Colorado numa miríade de
carros roubados à noite, N.C., herói secreto destes
poemas, garanhão e Adônis de Denver – prazer
ao lembrar suas incontáveis trepadas com garotas
em terrenos baldios & pátios dos fundos de
restaurantes de beira de estrada, raquíticas fileiras
de poltronas de cinema, picos de montanha
cavernas com esquálidas garçonetes no
familiar levantar de saias solitário à beira da
estrada & especialmente secretos solipsismos de
mictórios de postos de gasolina & becos da cidade
natal também,
que se apagaram em longos filmes sórdidos, foram
transportados em sonho, acordaram num
Manhattan súbito e conseguiram voltar com uma
impiedosa ressaca de adegas de Tokay e horror
dos sonhos de ferro da Terceira Avenida &
cambalearam até as agências de desemprego,
que caminharam a noite toda com os sapatos cheios
de sangue pelo cais coberto por montões de
neve, esperando que uma porta se abrisse no
East River dando para um quarto cheio de vapor e ópio,
que criaram grandes dramas suicidas nos penhascos
de apartamentos do Huston à luz azul de holofote
antiaéreo da luta & suas cabeças receberão
coroas de louro no esquecimento,
que comeram o ensopado de cordeiro da imaginação
ou digeriram o caranguejo do fundo lodoso dos
Rios de Bovery,
que choraram diante do romance das ruas com seus
carrinhos de mão cheios de cebola e péssima música,
que ficaram sentados em caixotes respirando a
escuridão sob a ponte e ergueram-se para construir
clavicórdios em seus sótãos,
que tossiram num sexto andar do Harlem coroando de
chamas sob um céu tuberculoso rodeados pelos
caixotes de laranja da teologia,
que rabiscaram a noite toda deitando e rolando sobre
invocações sublimes que ao amanhecer amarelado
revelaram-se versos de tagarelice sem sentido,
que cozinharam animais apodrecidos, pulmão coração
pé rabo borsht & tortilhas sonhando com
o puro reino vegetal,
que se atiraram sob caminhões de carne
em busca de um ovo,
que jogaram seus relógios do telhado fazendo seu
lance de aposta pela Eternidade fora do Tempo
& despertadores caíram em suas cabeças por
todos os dias da década seguinte,
que cortaram seus pulsos sem resultado três vezes
seguidas, desistiram e foram obrigados a abrir
lojas de antiguidades onde acharam que estavam
ficando velhos e choraram,
que foram queimados vivos em seus inocentes
ternos de flanela em Madison Avenue no meio das
rajadas de versos de chumbo & o estrondo contido
dos batalhões de ferro da moda & os guinchos
de nitroglicerina das bichas da propaganda &
o gás mostarda de sinistros editores inteligentes
ou foram atropelados pelos taxis bêbados
da Realidade Absoluta,
que se jogaram da ponte de Brooklyn, isso realmente
aconteceu, e partiram esquecidos e desconhecidos
para dentro da espectral confusão das ruelas
de sopa & carros de bombeiros de Chinatown,
nem uma cerveja de graça,
que cantaram desesperados nas janelas, jogaram-se
da janela do metrô saltaram no imundo rio
Paissac, pularam nos braços dos negros, choraram
pela rua afora, dançaram sobre garrafas
quebradas de vinho descalços arrebentando
nostálgicos discos de jazz europeu dos anos 30
na Alemanha, terminaram o whisky e vomitaram
gemendo no toalete sangrento, lamentações nos
ouvidos e o sopro de colossais apitos a vapor,
que mandaram brasa pelas rodovias do passado
viajando pela solidão da vigília da cadeia de
Gólgota de carro envenenado de cada um ou então
a encarnação do Jazz de Birmingham,
que guiaram atravessando o país durante setenta e duas
horas para saber se eu tinha tido uma visão ou se ele tinha
tido uma visão para descobrir a Eternidade,
que viajaram para Denver, que morreram em Denver,
que retornaram a Denver & esperaram em vão,
que espreitaram Denver & ficaram parados pensando
& solitários em Denver e finalmente partiram
para descobrir o Tempo & agora Denver está
saudosa de seus heróis,
que caíram de joelhos em catedrais sem esperança
rezando por sua salvação e luz e peito até que a
alma iluminasse seu cabelo por um segundo,
que se arrebentassem nas suas mentes na prisão
aguardando impossíveis criminosos de cabeça
dourada e o encanto da realidade em seus corações
que entoavam suaves blues de Alcatraz,
que se recolheram ao México para cultivar um
vício ou às Montanhas Rochosas para o suave
Buda ou Tânger para os garotos do Pacífico Sul
para a locomotiva negra ou Havard para Narciso
para o cemitério de Woodlaw para a coroa
de flores para o túmulo,
que exigiram exames de sanidade mental acusando
o rádio de hipnotismo & foram deixados com sua
loucura & e mãos & um júri suspeito,
que jogaram salada de batata em conferencistas da
Universidade de Nova Iorque sobre Dadaísmo
e em seguida se apresentaram nos degraus de
granito do manicômio com cabeças raspadas e
fala de arlequim sobre suicídio, exigindo
lobotomia imediata,
e que em lugar disso receberam o vazio concreto da
insulina metrazol choque elétrico hidroterapia
psicoterapia terapia ocupacional pingue-pongue
& amnésia,
que num protesto sem humor viraram apenas uma
mesa simbólica de pingue-pongue mergulhando
logo a seguir na catatonia,
voltando anos depois, realmente calvos exceto por
uma peruca de sangue e lágrimas e dedos
para a visível condenação de louco nas celas das
cidades-manicômio do Leste,
Pilgrim State, Rockland, Greystone, seus corredores
fétidos, brigando com os ecos da alma, agitando-se
e rolando e balançando no banco de solidão à
meia-noite dos domínios de mausoléu
druídico do amor, o sonho da vida um
pesadelo, corpos transformados em pedras
tão pesadas quanto a lua,
com a mãe finalmente ***** e o último livro
fantástico atirado pela janela do cortiço e a última
porta fechada às 4 da madrugada e o último
telefone arremessado contra a parede em
resposta e o último quarto mobiliado esvaziado até
a última peça de mobília mental, uma rosa de papel
amarelo retorcida num cabide de arame do armário
e até mesmo isso imaginário, nada mais
que um bocadinho esperançoso de alucinação –
ah, Carl, enquanto você não estiver a salvo eu não
estarei a salvo e agora você está inteiramente
mergulhado no caldo animal total do tempo –
e que por isso correram pelas ruas geladas obcecadas
por um súbito clarão da alquimia do uso da elipse
do catálogo do metro inviável & do plano vibratório,
que sonharam e abriram brechas encarnadas no
Tempo & Espaço através de imagens justapostas
e capturaram o arcanjo da alma entre 2 imagens
visuais e reuniram os verbos elementares e
juntaram o substantivo e o choque da consciência
saltando numa sensação de Pater Omnipotens
Aeterne Deus,
para recriar a sintaxe e a medida da pobre prosa
humana e ficaram parados à sua frente, mudos e
inteligentes e trêmulos de vergonha, rejeitados
todavia expondo a alma para conformar-se ao
ritmo do pensamento em sua cabeça nua e infinita,
o vagabundo louco e Beat angelical no Tempo,
desconhecido mas mesmo assim deixando aqui
o que houver para ser dito no tempo após a morte,
e se reergueram reencarnados na roupagem
fantasmagórica do jazz no espectro de trompa
dourada da banda musical e fizeram soar o
sofrimento da mente nua da América pelo
amor num grito de saxofone de eli eli lama lama
sabactani que fez com que as cidades tremessem
até seu último rádio,
com o coração absoluto do poema da vida arrancado
de seus corpos bom para comer por mais mil anos.

II

Que esfinge de cimento e alumínio arrombou seus
crânios e devorou seus cérebros e imaginação?
Moloch! Solidão! Sujeira! Fealdade! Latas de
lixo o dólares intangíveis! Crianças berrando
sob as escadarias! Garotos soluçando nos
exércitos! Velhos chorando nos parques!
Moloch! Moloch! Pesadelo de Moloch! Moloch o
mal-amado! Moloch mental! Moloch o pesado
juiz dos homens!
Moloch a incompreensível prisão! Moloch o
presídio desalmado de tíbias cruzadas e o Congresso
dos Sofrimentos! Moloch cujos prédios são
julgamento! Moloch a vasta pedra da guerra!
Moloch os governos atônitos!
Moloch cuja mente é pura maquinaria! Moloch cujo
sangue é dinheiro corrente! Moloch cujos
dedos são dez exércitos! Moloch cujo peito é
um dínamo canibal! Moloch cujo ouvido é
um túmulo fumegante!
Moloch cujos olhos são mil janelas cegas! Moloch
cujos arranha-céus jazem ao longo de ruas como
infinitos Jeovás! Moloch cujas fábricas sonham
e grasnam na neblina! Moloch cujas colunas de fumaça
e antenas coroam as cidades!
Moloch cujo amor é interminável óleo e pedra!
Moloch cuja alma é eletricidade e bancos!
Moloch cuja pobreza é o espectro do gênio!
Moloch cujo destino é uma nuvem de hidrogênio
sem sexo! Moloch cujo nome é a Mente!
Moloch em que permaneço solitário! Moloch em
que sonho com anjos! Louco em Moloch!
Chupador de caralhos em Moloch! Mal-amado
e sem homens em Moloch!
Moloch que penetrou cedo na minha alma! Moloch
em quem sou uma consciência sem corpo!
Moloch que me afugentou do meu êxtase natural!
Moloch a quem abandono! Despertar em Moloch!
Luz escorrendo do céu!
Moloch! Moloch! Apartamentos de robôs! Subúrbios
invisíveis! Tesouros de esqueletos! Capitais cegas!
Indústrias demoníacas! Nações espectrais!
Invencíveis hospícios! Caralhos de granito!
Bombas monstruosas!
Eles quebraram suas costas erguendo Moloch ao Céu!
Calçamento, arvores, rádios, toneladas! Levantando
a cidade ao Céu que existe e está em todo lugar
ao nosso redor!
Visões! Profecias! Alucinações! Milagres! Êxtases!
Descendo pela correnteza do rio americano!
Sonhos! Adorações! Iluminações! Religiões! O
carregamento todo em bosta sensitiva!
Desabamentos! Sobre o rio! Saltos e crucificações!
Descendo a correnteza! Ligados! Epifanias!
Desesperos! Dez anos de gritos animais e suicídios!
Mentes! Amores novos! Geração louca! Jogados
nos rochedos do Tempo!
Verdadeiro riso no santo rio! Eles viram tudo! O olhar
selvagem! Os berros sagrados! Eles deram adeus!
Pularam do telhado! Rumo à solidão! Acenando! Levando
flores! Rio abaixo! Rua acima!

III

Carl Solomon! Eu estou com você em Rockland
onde você está mais louco do que eu
Eu estou com você em Rockland
onde você deve sentir-se muito estranho
Eu estou com você em Rockland
onde você imita a sombra da minha mãe
Eu estou com você em Rockland
onde você assassinou suas doze secretárias
Eu estou com você em Rockland
onde você ri desse humor invisível
Eu estou com você em Rockland
onde somos grandes escritores na mesma
abominável máquina de escrever
Eu estou com você em Rockland
onde seu estado se tornou muito grave e é
noticiado pelo rádio
Eu estou com você em Rockland
onde as faculdades do crânio não agüentam
mais os vermes dos sentidos
Eu estou com você em Rockland
onde você bebe o chá dos seios das solteironas
de Utica
Eu estou com você em Rockland
onde você bolina os corpos das suas
enfermeiras as harpias do bronx
Eu estou com você em Rockland
onde você grita de dentro de uma camisa de
força que está perdendo o verdadeiro jogo
de pingue-pongue do abismo
Eu estou com você em Rockland
onde você martela o piano catatônico a alma
é inocente e imortal e nunca poderia morrer
impiamente num hospício armado,
Eu estou com você em Rockland
onde com mais de cinqüenta eletrochoques
sua alma nunca mais retornará a seu corpo de
volta de sua peregrinação rumo a uma cruz
no vazio
Eu estou com você em Rockland
onde você acusa seus médicos de loucura e
prepara a revolução socialista hebraica contra
o Gólgota nacional e fascista
Eu estou com você em Rockland
onde você rasga os céus de Long Island e faz
surgir seu Jesus vivo e humano do túmulo
sobre-humano
Eu estou com você em Rockland
onde há mais de vinte e cinco mil camaradas
loucos todos juntos cantando os versos finais da
Internacional
Eu estou com você em Rockland
onde abraçamos e beijamos os Estados Unidos
sob nossas cobertas Estados Unidos que
tossem a noite toda e não nos deixam dormir
Eu estou com você em Rockland
onde despertamos eletrocutados do coma pelos
nossos próprios aeroplanos da mente roncando
sobre o telhado eles vieram jogar bombas
angelicais o hospital ilumina-se paredes imaginárias
desabam Ó legiões esqueléticas correi para fora
Ó choque de misericórdia salpicado de estrelas
a guerra eterna chegou Ó vitória esquece tua roupa
de baixo estamos livres
Eu estou com você em Rockland
nos meus sonhos você caminha gotejante de volta
de uma viagem marítima pela grande rodovia que
atravessa a América em lágrimas até a porta do
meu chalé dentro da Noite Ocidental.
Carta Revolucionária #1
(Revolutionary Letter #1)

Acabo de perceber que o que está em jogo sou eu
Não tenho outro dinheiro de resgate, nada para
quebrar ou trocar, a não ser minha vida
meu espírito parcelado, em fragmentos, esparramado sobre
a mesa de roulette, eu recupero o que posso
só isso para enfiar embaixo do nariz do maitre de jeu
só isso para jogar pela janela, nenhuma bandeira branca
só tenho minha pele para oferecer, para fazer minha jogada
com esta cabeça imediata, com aquilo que inventa, é a minha vez
enquanto deslizamos sobre o tabuleiro, e sempre pisando
(assim esperamos) nas entrelinhas

Diane di Prima

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

E eu poderia ter transado com você ali mesmo no banco do meu carro, no meio da rua, na areia da praia ou em um banheiro qual quer.
E sem duvidas eu gozaria pra caralho, e seria bom demais, porque foder com você é uma delicia e eu tenho sim um certo tesão.
Mas eu não poderia lidar com todo o drama e todo nhé nhé nhé, que vem junto com você. Que vem depois de você, que vem com quem anda com você. E no dia seguinte, e no seguinte.
Eu acho chato pra caralho o seu entorno e o meu tesão não é suficientemente grande para lidar com ele. E agora eu liguei o foda-se, não sou a mocinha, nem quero ser, eu liguei o foda-se no dia que sai dessa cidade e voltei com ele ligado, e hoje eu quase me esqueci e quase cai nessa chatice de novo, mas eu me lembrei. Eu não to nem ai.
Eu não compro o preço do prazer de nos, eu to dura de saco para lidar com o tempo que você perdeu.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

E voce passa cinco anos da sua vida indo duas vezes por semanano psicologo, uma vez por mes no psiquiatra. Voce gasta uma nota em remedios, voce consegue ficar bem o suficiente para largar os remedios. Voce nao se envolve com drogas, pq vc tem uma estrutura que nao permite isso, lembra? Ai voce viaja para o outro lado do mundo, e conhece uma mulher, mais gostosa do que qual quer outra mulher que voce conheceu do seu lado do mundo, e voce goza toda vez que essa mulher diz "ciao bella" p vc no telefone, e voce pensa que voce queria fazer um filho nela, ou melhor, ter um filho dela.E voce odeia maconha sua vida inteira pq um ente querido colocou toda a culpa da sua personalidade ruim nessa droga, mas essa mulher, essa mulher tem cheiro de maconha e voce passa mal de tesao com o perfume dela. E voce fuma maconha e fumar maconha eh como fumar ela. e fumar ela. meu amigo, eh a melhor coisa que ja aconteceu na merda da sua vida. Ela te leva no quarto dos livros(ela tem um quarto de livros, porra!!) e pergunta: "Ei, vc conehce a gereacao beat? Eu amo pra caralho esses caras." Nesse momento vc se da conta que tudo q vc viveu ate aqui foi brincadeira.
Ela chega vestindo uma jaqueta preta, uma blusa preta, uma calca preta, uma bota preta, montada em uma moto preta. Faz um puta calor em Los Angeles hoje, eu estou de biquini e bermuda.
Ela tira o capacete preto, deixando escorrer os cabelos dourados. Uma maquiagem borrada da noite passada.
"Voce nao esta com calor, babe?"
"Nao, eu nao sinto calor.".
Ela e a mulher mais triste e bonita que eu ja conheci, ela enlouquece o tempo inteiro e eu me deixo enloquecer com ela. Eu estou morrendo de medo, eu nao tenho outra alternativa. Eu ando fumando maconha o dia inteiro e eu ando gostando.
Ela cheira cocaina, e eu acho lindo o jeito que aquele po branco invade o nariz dela, para logo em seguida ela sussurar no meu ouvido "Me come". Eu como voce e fico alucinada, toda essa droga que escorre do seu gozo, esse mundo de prazer e arte que jorra da gente. Sim, eu escolho enlouquecer com voce. E foda-se.