domingo, 21 de junho de 2009

Despersonalizção

Despersonalização.
“O bom ator não é aquele que quer aparecer. O bom ator é aquele que quer desaparecer.”Peter Brook.
Com o auxilio da professora de filosofia da arte Thereza Rocha, criei um conceito metafórico, sobre o que considero que deve ser a luta diária do ser artista. Descascar- se.
De acordo com Thereza, ninguém é, ninguém está, todos devem. Estamos todos em processo de transformação a nada, ou seja, um processo infinito por tornar-se o que nunca de fato se concluirá. Não há, portanto um núcleo, uma essência. Eis minha metáfora: somos cebolas, somente cebolas. A cebola é revestida por muitas cascas, olhando para uma temos a impressão de que ela seja uma bola solida e que ao final das cascas haverá um núcleo. Ledo engano. Não sobra nada no fim das cascas.
O nada é invisível, ele tudo adere, ele não se distingue, no entanto, sendo nada, ele faz parte. Esse é o processo do ator antropólogo, o de descascar-se, o de não se encerrar em quaisquer pontos, não buscar um percurso pronto. O ator antropólogo não é definível, porém talvez eu pense que ele não se aponte em vírgulas previsíveis.
Quanto menos cascas mais próximo da arte está a cebola, Quando o artista se torna obra, ai sim. Talvez seja essa a busca do ser - humano a de tornar-se obra. Como diria Fernando Pessoa, o poeta que reconhecidamente não era nada(por ele mesmo): “A arte é a auto-expressão, lutando para ser absoluta”.
O abrir mão do olhar que se limita ao campo das probabilidades, para estendê-lo ao campo das possibilidades, é o que mais anseio. Quero poder um dia me misturar com o meio, libertando-me de todas as cascas que limitam a minha conexão.
Eu que não sou uma foto, nem tão pouco uma organização. Talvez seja, talvez seja. Mas não quero mais, não quero ser coisa alguma.
A interminável busca por ser, já não parece mais ser.
Eu que tinha uma ilusão bem construída de mim mesma, fiz a escolha de desconhecer-me a cada segundo, e às vezes quando o mundo se faz dor, eu não posso voltar pra casa, por que eu não tenho mais uma casa.
Tudo bem, que devenha assim. É uma escolha.

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