quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sem o "Tay" sou "Ana"

Em o "Tay" eu sou "Ana"

Palavras escritas por mim, ou melhor, escritas po Ana, minha personagem em "As Horas Vulgares"

Mais que de carne, osso, sangue, veias, sexo
Sou feita da ausência
Ausência pontuda, rasgada e ardida
Minha extensão toda loucura rompendo a pele
Vindos dos debaixos da alma.
Não há calma, sempre taquicardia
Nunca é dia, ninguém se aproxima
Do breu, da noite que me tornei.
Me arrasto no movimento quase intangível de mil perninhas
Meus passos de bailarina mofada, que fugiu da caixinha
Sobre o chão liso demais das faltas mais fundas.
Dentro da minha noite aguda, Gil dorme pra sempre.
Muda de posição, sofre seus espasmos noturnos
Sonha descaradamente
Diante de meus olhos insones
Diante da minha fome
Da minha estranha arquitetura de agulhas
Veneno, inflamação
Chamas, incêndio, sirenes, pavor, tesão
Amor.
Enxame de abelhas, canteiro de obras
Escombros
Uma parede emassada ali
Muitos pregos.
Um quadro da mãe que acordada para sempre, me zela muda, sem sorriso.
Mel escorrendo grosso pelo pé direito
Pelo lado de dentro.
Por fora só esse silêncio.

Ana Vulgar

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