sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Trecho solto do meu romance; Poemas invisíveis para amores inexistentes

Eu ficava observando da minha janela a vida estranha de meu vizinho Tobias, eu só sabia que assim se chamava ele, porque ouvi o porteiro do meu prédio dizendo que a correspondência era para o senhor Tobias do 804. Ele tinha cabelos brancas e uma barriga dura e grande. Passava os dias entre livros e pantufas, nunca vi Tobias comendo, tomando banho, conversando. Só via Tobias entre livros, cartas e pantufas. Ele tinha um mar de cartas em seu apartamento, e elas ficavam espalhadas por toda a extensão da sala de Tobias.
No dia que Maria olhou nos meus olhos e sem nenhuma lágrima, e sem nenhuma dor me disse(Maria, aquela que costumava se debulhar em água nos meus braços toda vez que eu precisava viajar a trabalho): "Eu já não te amo mais, Érico." Eu tive certeza que dessa vez era o fim. Eu não entendo muito de amor, mas sei que quando esse acaba, é definitivo, embora tivesse acredito durante toda minha vida que tal sentimento fosse incapaz de morte. Embora acreditasse que ele era um talentoso sabotador de assassinatos. Eu nunca deixei de amar nenhuma das três mulheres que amei, embora... Mas não, naquele dia bebi um imenso gole de rejeição e sentindo aquele seco me enxergar, tive certeza que Maria não me amava mais e nunca voltaria a me amar. Eu me fiz de forte naquele momento, não podia me desfazer do meu papel de macho. Disse a Maria que tudo bem, que talvez eu já não a amasse mais também(o que era mentira obviamente), foi quando Maria, ternamente olhou para as minhas mãos edisparou em um monólogo terrível; "Eu gostaria de me tornar sua amiga, sabemos muito um do outro, estivemos juntos por muito tempo e eu sinto um carinho profundo por você. Não quero te arrancar da minha vida, você é importante." Neste ponto da conversa eu não aguentei, não dei conta de tamanha crueldade, e por mais que eu fizesse uma força enorme para me manter em minha pose, esta que havia mantido durante os cinco anos que vivi ao lado de Maria, por mais que eu gritasse para o meu corpo inteiro para não autorizar o desabamento daquelas incabíveis gotas de olhar, por mais que...Neste momento eu comecei a chorar feito um menino, e não sabia o que fazer com os braços, neste momento acreditei que Maria me abraçaria em meu socorro, como sempre fiz por ela, embora isso fosse me deixar ainda pior. Mas não, Maria se retirou da minha casa e me deixou ali. E me deixou, e pela primeira vez eu havia sido deixado, e pela primeira vez eu. Eu arrumei minhas coisas naquele dia mesmo, fraco e cansado, decidido que aquele era o momento de me tornar um grande escritor, que nada mais iria me amedrontar ou roubar minha inspiração, eu fari como Fernando Pessoa, assumiria a minha liberdade de solidão e deste dia até o dia que eu escrevesse um romance que realmente prestasse, eu ficaria exilado deste mundo de humanos.

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