domingo, 21 de outubro de 2012

Livia é o seu nome


Hoje pela primeira vez eu consegui entender que seu nome é seu, eu consegui degustar na minha boca a sonoridade que tem seu nome e atribuir a ele seu rosto. Peguei imediatamente o meu celular, abri os meus contatos e troquei "Amor" por "Livia", como se te libertasse da instituição fundada por mim e te desse a liberdade de existir enquanto outra. Eu tenho dificuldade com os outros, sempre tive, estar em mim e dar conta da minha falta já é demais cansativo para eu me permitir  conhecer o que Sartre chamou de inferno. Estamos agora próximas aos 4 meses de namoro, tempo esse que para a maioria é quase nada, mas que pra mim era o suficiente para conhecer as profundezas de minha "amante" a quem costumeiramente apelidava com qual quer coisa que me permitisse ignorar seu nome, e agora me dou conta, a apelidava com qual quer coisa que me permitisse ignora-lá que a tornasse coisa e coisa essa moldável, uma peça perdida do meu quebra-cabeça, cuja a existência estava designada a ser apenas a parte externa de mim que faltava. Eu criava as minhas mulheres de maneira a invalida-las e assim me enganava e as enganava numa junção fundida. Eu não fundi com você. E isso me bate o peito. como uma mare furiosa de angústia e medo, você joga na minha cara, através de seus silêncios de nome-próprio, toda a humanidade que eu nunca conheci e não dança comigo enquanto eu me dou conta de que eu, que sempre me achei profunda conhecedora da alma humana, nunca passei das fronteiras de mim, essas que de fato não existem. Me dou conta de que nunca passei das inexistências. E agora, pela primeira vez você tem nome e eu não faço a menor ideia de quem você é. Olho profundamente para os seus olhos e não me vejo, talvez essa seja a única certeza que tenho, você não sou eu e isso me faz ter que entrar em contato com a questão mais assustadora da minha existência: A MINHA EXISTÊNCIA.

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